Pesquisadores da USP e de universidades federais desenvolvem aplicativo gratuito para ajudar jovens na escolha profissional

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Estudantes podem fazer download gratuito da ferramenta e identificar o próprio perfil profissional, além de localizar os cursos técnicos que têm potencial para atender seus interesses de forma mais adequada.

Estimular os estudantes brasileiros a escolher um curso técnico sob medida para atender a cada perfil de interesses. Esse é um dos principais objetivos do aplicativo Soutec, que já está disponível para download gratuito.

A ferramenta foi desenvolvida por um grupo de especialistas em computação aplicada à educação de diversas universidades públicas brasileiras, todos eles vinculados ao Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (NEES) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), a pedido do Ministério da Educação (MEC). “É fantástico ter a oportunidade de ver a mudança que a gente está fazendo na vida das crianças”, revela o professor Seiji Isotani, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, São Carlos, que faz parte do time de pesquisadores que criou o Soutec.

Isotani se impressionou com uma cena enquanto acompanhava a apresentação do aplicativo para uma turma do novo ano do ensino fundamental da escola estadual professor Sebastião de Oliveira Rocha, em São Carlos: “É fantástico ver um jovem que tem o sonho de ser jogador de futebol responder às questões do teste profissional do aplicativo e, a partir da análise do perfil, descobrir que também tem interesse em trabalhar em uma parte técnica, em cuidar das pessoas. Isso abre um leque de oportunidades para a vida dessa criança.”

É quarta-feira, 1⁰ de junho, e os cerca de 30 jovens da turma experimentam pela primeira vez o aplicativo Soutec. Depois que respondem às 72 questões que avaliam suas preferências relacionadas a atividades de trabalho, eles compartilham com os colegas, empolgados, a descoberta do perfil profissional. “Eu achei muito legal a experiência porque estava em dúvida em duas áreas e, quando eu fiz o teste, tive certeza praticamente. E aí eu vi os cursos que têm aqui, perto de mim”, conta uma das alunas da turma, Maria Júlia dos Santos Estevo, de 14 anos.

Na opinião de Silvana Tonon, professora de ciências que acompanhou os alunos da Sebastião de Oliveira Rocha enquanto usavam o Soutec na sala de aula, a ferramenta pode auxiliar em um momento muito precioso: no próximo ano, devido ao novo ensino médio, esses estudantes precisarão decidir em qual área querem aprofundar os conhecimentos. “Então, é uma época de muitas dúvidas, e o aplicativo já indica uma afinidade com uma área. Mesmo que eles não queiram fazer o curso técnico agora, pelo menos já tem uma indicação de onde eles poderão se dar bem”, ensina a professora.

“O aplicativo estimula o protagonismo juvenil, ou seja, incentiva que os jovens escolham algo para fazer no futuro, pensem em uma profissão desde o ensino fundamental. As oportunidades não existem apenas nas universidades, há opções para resolver os problemas do nosso país também para quem faz ensino técnico”, ressalta Isotani.

Lançamento no MEC – As cenas vistas na escola de São Carlos se repetiram na sexta-feira, 3 de junho, em Brasília. Foi quando aconteceu o lançamento oficial do Soutec no auditório do MEC. Durante o evento, foi a vez dos estudantes do nono ano do Centro de Ensino Fundamental 102 Norte experimentarem o aplicativo. Ágeis, enquanto ouviam as falas dos palestrantes, os jovens clicavam sem parar nas telas de seus celulares respondendo às questões do teste de interesses.

Foi assim que Luiz Felipe de Souza Caminha Gurgel França, de 14 anos, descobriu que seu perfil profissional é uma mistura de características empreendedoras e intelectuais-científicas. Depois da descoberta, ele consultou as diversas opções de cursos técnicos recomendados para o seu perfil, tal como Técnico em Química e o Técnico em Fotointeligência.

As 72 questões que fazem parte do teste de interesses são fruto do trabalho do professor e pesquisador Mauro Magalhães, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Especialista em orientação ocupacional e desenvolvimento de carreiras, o professor desenvolveu as questões para o aplicativo com base nos estudos do norte-americano John Lewis Holland.

Consolidada na área da psicologia, a teoria criada por Holland reúne evidências empíricas de sua validade ao longo de mais de 60 anos. “Holland postulou que as pessoas e os ambientes de trabalho podem ser caracterizados de acordo com seis tipos vocacionais e ambientais, a saber: realista (R), investigativo (I), artístico (A), social (S), empreendedor (E) e convencional (C). Na verdade, cada indivíduo ou ambiente possui características de todos os seis tipos em maior ou menor grau”, sintetiza Magalhães.

O professor explica ainda que, de acordo com essa perspectiva, as pessoas buscam ambientes de trabalho ou profissões que permitam a expressão de seu perfil profissional, e a congruência entre a pessoa e o ambiente influencia a estabilidade, a satisfação e a perseverança nas escolhas de carreira.

É a partir das respostas às 72 questões do teste que o aplicativo categoriza os interesses de cada pessoa. Na sequência, o sistema consegue, automaticamente, relacionar esses resultados às características dos cursos disponíveis no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNTC). Então, faz-se a recomendação das opções que poderão atender de forma mais adequada ao perfil de interesses de cada usuário.

Como a proposta nasceu – A demanda surgiu da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) do MEC, que identificou a necessidade dos jovens brasileiros conhecerem os cursos oferecidos pela rede federal de educação profissional, científica e tecnológica. A ideia partiu de Vanessa Cristini da Silva Matos, que estava trabalhando na Setec no final de 2020: “Eu pensei em um aplicativo porque a maioria dos alunos tem esse recurso: está na mão, é mais fácil do que um computador, e a gente poderia fazer essa versão sem necessariamente ter internet para usar a ferramenta”, revela a funcionária, que hoje é assessora na Subsecretaria de Planejamento e Orçamento do MEC.

Na opinião de Joedna Hubner, assessora do Núcleo de Pesquisa e Inovação da Setec, ouvir os estudantes foi fundamental no desenvolvimento e aprimoramento do aplicativo. Em março, no retorno das aulas presenciais, uma equipe da Setec e do NEES visitou escolas das cinco regiões do Brasil para apresentar o aplicativo, dialogar e coletar sugestões.

No total, 323 estudantes testaram o Soutec, levantaram dúvidas e apontaram algumas necessidades de melhorias. “O teste de interesse chamou muita atenção e eles se divertiram respondendo. Nesse período de aplicação dos testes, percorremos 12.896 quilômetros, cortando o céu do Brasil para validar uma política pública que nasceu para auxiliar todos os estudantes dos anos finais do ensino fundamental e dos anos iniciais do ensino médio. O aplicativo colabora com o projeto de vida dos estudantes de todas as escolas do Brasil, sejam públicas ou privadas”, conta Joedna.

As sugestões dos alunos foram fundamentais para aprimorar o aplicativo antes do lançamento, segundo a equipe de desenvolvimento da solução, que foi coordenada pelo professor Alan Pedro da Silva, vice-diretor do NEES. Participar desse time teve um sabor especial para o professor Thiago Araújo de Oliveira, do Instituto Federal de Alagoas (IFAL). Ele já foi aluno do curso de Eletrotécnica oferecido pelo IFAL em Palmeira dos Índios, cidade alagoana a cerca de 130 quilômetros da capital, Maceió.

“Não cheguei a concluir o curso técnico porque fui aprovado no vestibular para fazer graduação em computação na UFAL. Hoje, depois de anos como professor de um instituto federal, enxergo como essa ferramenta pode atender à necessidade do aluno de se identificar com um curso e também às demandas do governo federal, que precisa atender a essa necessidade do estudante e, ao mesmo tempo, buscar diminuir a evasão no ensino médio”, finaliza Oliveira.

Texto e fotos: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do NEES/UFAL