O fator K e os rumos da economia brasileira e internacional em 2021

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Especialistas recorrem às letras do alfabeto como uma analogia para ilustrar previsões econômicas e a influência do controle da pandemia para o crescimento das empresas

O ano começou otimista com perspectivas de desenvolvimento econômico após um 2020 frustrante e cheio de percalços. Mas para que o Brasil tenha um crescimento na ordem de 3,0%, ainda há muita água para rolar debaixo da ponte, na visão de Carlos Primo Braga, professor associado da Fundação Dom Cabral e ex-diretor de Política Econômica e Dívida do Banco Mundial.

Na visão dele, é o controle da pandemia que irá ditar os rumos do crescimento econômico nos próximos meses. O especialista usa como referência o fator K, indicador que mede o grau da dispersão associado com o vírus. “Quanto menor o valor de K, maior é a tendência de que o surto seja explicado por um número limitado de eventos/pessoas com características “super propagadoras”, ou seja, que disseminam o contágio em larga escala”, afirma Braga. Ele acrescenta que estudos realizados em diferentes países estimam esse valor para o Sars-CoV2 em índices bem inferiores a 1. Isto significa que 10% a 20% das pessoas infectadas são responsáveis por cerca de 80% das novas infecções.

Teoricamente, essa seria uma boa notícia porque a super propagação poderia ser controlada por meio da limitação das aglomerações e testagem generalizada. Essa é uma maneira de evitar quarentenas draconianas, como observamos na Europa e na China, por exemplo. No entanto, em países nos quais há uma grande polarização política e um setor informal substantivo, como é o caso do o Brasil, há um favorecimento da “super propagação” do vírus. A aparição de novas cepas do vírus (como a variante P1 que surgiu no Brasil), que parecem ser mais contagiosas, torna a situação ainda mais preocupante. É consenso entre cientistas e autoridades sanitárias que a queda da curva de contágio dependerá não apenas de medidas de distanciamento social – além do uso de máscaras e higienização –, mas principalmente da vacinação em massa. Evidentemente, acelerar o cronograma de vacinação e evitar a politização do debate sobre as medidas de saúde pública devem ser prioridades no caso brasileiro.

Um alfabeto de possibilidades

De acordo com o professor da FDC, em meio à pandemia, analistas elaboraram um “alfabeto” de previsões para a retomada do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), conforme a variação dos cenários impostos pela Covid-19 e sua relação com setores específicos da economia. “Na maioria dos países, a indústria vinha se recuperando em V, em comparação com o setor de serviços, que seguia o curso da letra U. No entanto, com o surgimento de uma nova cepa, além do relaxamento das medidas de distanciamento social, e os danos crescentes nos balanços das empresas e a interrupção de programas de transferência de renda, o espectro da trajetória do PIB é mais acidentado, semelhante ao desenho da letra K”, explica Braga.

Qual a perna da letra K que representa sua empresa?

O especialista destaca também que a analogia à letra K permite uma leitura alternativa para os contornos da crise com ênfase no impacto sofrido pelas diferentes classes de rendas e empresas. “Na recuperação em K, as pessoas ou empresas que tendem a ganhar fôlego mais rápido representam a perna ascendente da letra, são aquelas bem dotadas com ativos financeiros e liquidez e que estão melhor preparadas para operar em ambientes digitais. Já as camadas mais pobres da sociedade e as empresas que não estão preparadas para operar no mundo digital, dependendo de interações físicas para suas operações, tendem a seguir uma trajetória contracionista como capturado pela perna descendente do K”, avalia.

Braga relata ainda que, na maioria dos países, a trajetória em K foi influenciada pela expansão monetária e fiscal. Isso porque programas governamentais voltados para aliviar o impacto da pandemia tanto com relação a pessoas físicas como jurídicas amenizaram o impacto da crise mesmo num cenário de recessão e desemprego. O Brasil, por exemplo, fez um esforço fiscal ímpar entre economias emergentes em 2020. “Além disso, mudanças de comportamento dos consumidores, principalmente a queda de consumo no setor de serviços, a influência na queda dos juros sobre o serviço de dívidas, por sua vez, promoveu um aumento da poupança”, reflete o especialista.

Economistas concordam que, no Brasil, as transferências emergenciais de renda atenuaram a crise e seu impacto nos níveis de pobreza e desigualdades sociais. “Entretanto, não podemos ignorar a realidade do desequilíbrio e deixar de lado as âncoras fiscais, como o teto de gastos, por exemplo. Tudo isso afetará a credibilidade do setor público. Por isso, o governo deve ser competente na administração da situação fiscal. Cabe salientar que a perda de confiança no poder público pode contribuir para uma trajetória em k mais acentuada nesse ano de 2021”, ressalta Braga.

Previsões para a economia mundial

De acordo com informações recentes divulgadas pelo Banco Mundial e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a economia global deve crescer de 4 a 5,6% em 2021 após um recuo da ordem de 4% no ano passado. A previsão é de que os Bancos Centrais continuarão adotando políticas expansionistas que contribuirão para a manutenção de taxas de juros nominais próximas a zero se as expectativas inflacionárias continuarem sob controle.

“Caberá aos governos decidirem sobre a operação das políticas fiscais expansionistas. Se essas políticas forem reduzidas a trajetória em K ficará mais evidente, já que à recuperação do mercado de trabalho tende a acontecer num ritmo menos acelerado do que a valorização de ativos de riscos em meio a políticas monetárias expansionistas”, argumenta o professor da FDC.

A grande questão, no momento, segundo ele, diz respeito à dramática expansão fiscal nos EUA, com o recém aprovado programa de US$1,9 trilhões da administração do presidente Joe Biden, e o potencial impacto desse programa sobre expectativas inflacionárias.

Taxa de juros X taxa de crescimento

Analistas de mercado acreditam que desde que a taxa de juros seja menor que a previsão da taxa de crescimento da economia, a administração do desequilíbrio fiscal pode ser realizada sem maiores surpresas. Contudo, levando em conta a realidade brasileira, o aumento do déficit primário – de 1,3% do PIB em 2019 para 11,3% em 2020 – encaminhou a dívida pública para uma trajetória insustentável. “O custo e serviço da dívida caiu de quase 15% em 2016 para 5% em 2020, mas a inclinação crescente da curva de juros de longo prazo é um alerta”, finaliza Braga.

Fórum Econômico

O professor Carlos Braga é um dos palestrantes do 2º Fórum Empresarial, realizado em parceria entre a JValério Gestão e Desenvolvimento e a Fundação Dom Cabral (FDC). O evento será online,nos dias 24 e 25 de março, com inscrições gratuitas no site Fórum Empresarial – 2021 – JValério FDC (jvalerio.com.br).

Na palestra “Família, família, negócios a parte”, o professor da FDC Dalton Sardenberg, que é especialista em Gestão de empresas familiares, aborda justamente a importância de encontrar, entre os herdeiros, alguém com habilidade para dar continuidade à gestão do negócio. Afinal, o planejamento sucessório deve envolver a formação de sucessores e o treinamento ou contratação de um executivo para gerir a empresa, e vai além das questões burocráticas para a transferência de propriedade.

A transformação digital também estará em voga no Fórum Empresarial e Gil Giardelli, que estuda a cultura digital, ministra a palestra “Globotics e a Sociedade 5.0 – e as transformações do Brasil?”. O evento contará ainda com a participação de outros profissionais renomados, como o jornalista e palestrante Clóvis de Barros Filho, Adriana Netto (Coach de executivos e herdeiros de empresas familiares e professora da FDC), Beto Madalosso (empresário no ramo da gastronomia) e Marcio Viana (CEO da TOTVS Unidade Curitiba e membro do Conselho de Administração da multinacional EXAGO, de Portugal).

Photo by Tech Daily on Unsplash