Segundo especialistas, educação em casa não substitui a escola
Mais de 7 mil famílias – segundo estimativas da Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED) – adotam a educação domiciliar no Brasil. O assunto vem sendo bastante discutido em função de uma medida provisória elaborada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos que pretende regulamentar o homeschooling no país.
A experiência de educar os filhos em casa, sem matriculá-los em uma escola, já é realidade em outros países, como nos Estados Unidos e Canadá. No Brasil, a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente determinam obrigatória a matrícula de crianças entre 4 e 17 anos na rede regular de ensino. Com a proposta de regulamentação do homeschooling em andamento, educadores questionam a prática de estudar em casa. “A discussão sobre educar as crianças em casa ou na escola formal é algo relativamente moderno, pois até 100 anos atrás, educação era coisa da família. Nenhum pai abria mão deste papel, ao passo que poucos tinham acesso à escola. A educação formal era um privilégio, coisa para poucos”, revela Ademar Batista Pereira, presidente da FENEP- Federação Nacional das Escolas Particulares.
“A escola é espaço de aprendizagem, que propicia a troca de conhecimentos, valores e a convivência. Além das questões pedagógicas e educacionais, ela tem uma função social muito importante. É nela que a criança começa a entender seu papel na sociedade e enxergar formas de interagir e aprender junto com o próximo”, explica a psicopedagoga Esther Cristina Pereira, presidente do Sindicato das Escolas Particulares – Sinepe/PR.
No homeschooling, a criança seria privada de se deparar com a diversidade, enfrentar frustrações e entrar em contato com outras ideias, diferentes da de sua família. Além desta questão da socialização, especialistas ainda indicam que poderiam existir lacunas na aprendizagem. “Na escola, o professor tem toda uma formação especial para ensinar. Em casa, o envolvimento emocional entre pais e filhos e a forma da família conduzir esse processo de aprendizagem pode trazer prejuízos para a formação desse individuo”, pondera a psicopedagoga. O presidente da FENEP lembra ainda que a educação formal é um processo que exige métodos e técnicas, aplicados por instituições e pessoas que as dominem. “Não é possível separar educação de ensino, pois para ensinar, a escola precisa de disciplina, cumprimento de deveres, senso de responsabilidade, respeito às regras e às pessoas – ou seja, os tais valores que devem ser aprendidos dentro do seio familiar e da sociedade. A família, por sua vez, para educar seus filhos, precisa de instituições que apresentem estes valores para as suas crianças. Somente este trabalho em conjunto pode dar as condições para o desenvolvimento saudável e autônomo da criança. É ainda a ‘boa e velha’ escola formal que tem as melhores condições técnicas para identificar as potencialidades e caminhos para a formação da próxima geração”, afirma Ademar Batista Pereira.