Dieta cetogênica, com baixíssima ingestão de carboidratos, pode ser útil para o câncer no cérebro?

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Estudo da Neurology, revista médica da American Academy of Neurology, destaca que a dieta cetogênica pode valer a pena para pessoas com tumores cerebrais, já que é segura e viável, mas o estudo não foi desenhado para determinar se a dieta poderia retardar crescimento do tumor ou melhorar sobrevida

Descobrir qualquer tumor pode ser uma notícia dura de digerir, mas uma das primeiras dúvidas que surgem é com relação à dieta, afinal, muitos pacientes sentem-se motivados a assumir o controle e ajudar em pelo menos algum aspecto de seu tratamento. “Uma das dúvidas mais comuns é com relação a qual dieta seguir, para ajudar a frear o crescimento das células tumorais e melhorar a resposta do tratamento”, explica o Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Recentemente, um estudo publicado em julho na Neurology, revista médica da American Academy of Neurology, avaliou a segurança da dieta cetogênica, rica em gordura e pobre em carboidratos. “O pequeno estudo demonstrou que a dieta era segura e viável para pessoas com tumores cerebrais chamados astrocitomas, que poderiam ser de baixo grau ou alto grau. Não há tratamentos curativos para esses tipos de tumores cerebrais e as taxas de sobrevivência são baixas, portanto, quaisquer novos avanços são muito bem-vindos. Todas as pessoas haviam completado o tratamento de radioterapia e quimioterapia. A dieta levou a mudanças no metabolismo do corpo e do cérebro, mas o estudo não foi desenhado para determinar se a dieta poderia retardar o crescimento do tumor ou melhorar a sobrevida, apenas para determinar a segurança, viabilidade e mudanças no metabolismo tumoral”, destaca o médico.

Segundo a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia, nessa dieta, o corpo muda o que usa para obter energia – em vez de carboidratos, usa o que se chama cetonas. “Fisiologicamente falando, faz sentido diminuir o apetite através da produção dos corpos cetônicos, mas a prática traz efeitos colaterais relevantes e não deve ser iniciada sem o acompanhamento de um especialista. As refeições nessa dieta geralmente contêm proteínas de alto valor biológico, consumo de gorduras saudáveis e quantidades muito restritas de carboidratos complexos”, explica a médica. “As células cancerosas dependem, em parte, da glicose e frutose, e de seu metabolismo, para se dividir, crescer e se manterem viáveis. Como a dieta cetogênica é pobre em açúcar, as células cerebrais normais poderiam sobreviver com cetonas, mas a teoria é a de que as células cancerosas não podem usar cetonas como energia e dependeriam de outras formas para sobreviver, no entanto, é absolutamente improvável que sozinha a dieta cetogênica seja útil no tratamento, assim como não temos qualquer evidência hoje de que compense sugerir este tipo de dieta para pacientes que tratam um tumor cerebral”, explica o Dr. Gabriel.

O estudo envolveu 25 pessoas com astrocitomas. Eles seguiram um tipo de dieta cetogênica, a dieta modificada de Atkins com jejum intermitente, por oito semanas, mas foram bem acompanhados. A dieta inclui alimentos como bacon, ovos, creme de leite, manteiga, vegetais de folhas verdes e peixes. Os participantes se encontraram com um nutricionista no início do estudo e, em seguida, a cada duas semanas. Cinco dias por semana, eles seguiram a dieta modificada de Atkins, que combinava restrição de carboidratos com grandes quantidades de gorduras. Eles jejuaram dois dias por semana, comendo até 20% da quantidade de calorias diárias recomendada.

O principal objetivo do estudo era verificar se as pessoas eram capazes de seguir a dieta sem efeitos colaterais graves. Um total de 21 pessoas completaram o estudo e 48% seguiram a dieta completamente, de acordo com seus registros alimentares. Mas os testes de urina mostraram que 80% das pessoas atingiram o nível em que seu corpo estava usando principalmente gorduras e proteínas como combustível, em vez de carboidratos. “A dieta foi bem tolerada, no geral. Duas pessoas tiveram efeitos colaterais graves durante o estudo – uma não estava relacionada à dieta e a outra possivelmente estava relacionada”, diz o médico.

No final do estudo, foram observadas alterações no metabolismo do corpo e do cérebro. Segundo o estudo, os níveis de hemoglobina A1c, os níveis de insulina e a massa gorda corporal diminuíram. A massa corporal magra aumentou. “Varreduras cerebrais especializadas que detectam mudanças nos metabólitos cerebrais mostraram um aumento nas concentrações de cetonas e mudanças metabólicas no tumor. É claro que mais estudos são necessários para determinar se essa dieta pode prevenir o crescimento de tumores cerebrais e ajudar as pessoas a viver mais, mas esses resultados mostram que a dieta pode ser segura para pessoas com tumores cerebrais e produzir mudanças no metabolismo do corpo e do cérebro com sucesso. Uma limitação do estudo é que os membros da equipe do estudo proporcionaram um grande contato com os participantes, o que pode não ser viável em um estudo maior ou em cuidados clínicos de rotina”, finaliza o Dr. Gabriel.

FONTES:

*DR. GABRIEL NOVAES DE REZENDE BATISTELLA: Médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Formado em Neurologia e Neuro-oncologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, hoje é assistente de Neuro-Oncologia Clínica na mesma instituição. O médico é o representante brasileiro do International Outreach Committee da Society for Neuro-Oncology (IOC-SNO).

*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.

Link: https://n.neurology.org/content/early/2021/07/07/WNL.0000000000012386