4 formas pelas quais o vírus causador do Covid-19 pode atacar o cérebro – e deixar sequelas

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Entenda como o vírus Sars-Cov-2 pode atacar, direta ou indiretamente o cérebro, e as sequelas que esse ataque pode deixar

Além de causar diversos problemas respiratórios e nos vasos sanguíneos, o vírus Sars-Cov-2, causador da doença Covid-19, também pode atacar o cérebro. “O cérebro acaba sendo um alvo fácil durante o processo de doença por diversos acontecimentos em simultâneo no corpo. É exatamente por isso que muitas pessoas que foram infectadas pelo vírus Sars-Cov-2 relatam, após algum tempo, sequelas neurológicas, que incluem fadiga, sensação de falta de ar, dores musculares, cefaleia, tontura frequente, dificuldades de memória e concentração, além de insônia”, explica o Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). De acordo com o médico, pelo menos quatro motivos estão ligados a esse ataque ao cérebro: a disfunção sistêmica, a disfunção do sistema renina-angiotensina, a disfunção imune e a invasão cerebral pelo próprio vírus. Abaixo, ele explica cada um:

Disfunção sistêmica: “Quanto à disfunção sistêmica (o corpo em sofrimento), durante a doença, o corpo pode sofrer de inúmeras formas, mas uma bem chamativa para os médicos e muito temida pelos pacientes é a dificuldade de oxigenação do corpo, por frequente acometimento dos pulmões! Oxigênio é um alimento insubstituível para o cérebro, então mesmo que ele não seja diretamente atacado pelo vírus, o simples fato de uma menor oxigenação já irá exigir mais trabalho do nosso cérebro”, explica o médico.

Disfunção do sistema renina-angiotensina: “No caso da disfunção do sistema renina-angiotensina, aqui entra uma explicação muito complexa. Hoje entendemos que o dano neste importante e natural sistema do nosso corpo gera dificuldades nos vasos (veias e artérias) na sua parte interna (endotélio), o que pode provocar dificuldades de dilatação, maiores chances de formação de trombos e outros. Aqui o cérebro também não é poupado”, destaca o neuro-oncologista.

Disfunção imune: “Com relação à disfunção imune, sabemos que o corpo está inflamado (e muito). Isso acaba de certa forma “bombardeando” nosso cérebro com citocinas e outros fatores pró-inflamatórios, dificultando o trabalho dos neurônios e das células que dão suporte aos neurônios. Muito possivelmente também explica algumas confusões mentais, sonolência, apatia, e até mesmo delírios. Neurologistas acreditam, também, que essa disfunção explica algumas raras doenças neurológicas, como síndrome de Guillain-Barré e outras que costumam ‘caminhar’ juntas durante o processo infeccioso”, explica.

Invasão cerebral pelo próprio vírus: E, por fim, no caso da invasão cerebral pelo próprio vírus, isso ocorre e parece ser comum pelos estudos de autópsia, mas, curiosamente, não parece ter relação com a gravidade da doença. “Sendo assim, mesmo que encontremos o vírus no cérebro, isso não diz que será grave, ou que irá desenvolver danos neurológicos. Aparentemente os outros mecanismos que citei mais acima são bem mais responsáveis por tudo que venha a ocorrer no cérebro”, explica o médico.

Segundo o médico, pelo fato do cérebro ser um “alvo fácil”, o corpo pode sofrer com as sequelas pós-Covid, dentre as quais: fadiga extrema, respiração curta e sensação de falta de ar, dor no peito, dificuldades de memória e concentração, insônia, tontura, formigamentos, dores nas juntas, depressão e ansiedade, alterações na pele, dores de estômago e outros”, explica. “Curiosamente, se o paciente foi mais leve ou mais grave não parece influenciar aqui, até o momento não sabemos identificar com clareza quais pacientes terão sintomas por mais tempo, devemos conseguir identificá-los no futuro com maior precisão conforme estudos forem sendo publicados”, diz o médico.

Quando o paciente precisou ser internado, existem sintomas mais frequentes após a recuperação. “Com certeza a encefalopatia (distúrbio global do sistema nervoso central, que causa diversos sintomas neurológicos em diversos sistemas cerebrais do paciente) é um deles (presente em 55% dos pacientes graves, e usado como um preditor de desfecho negativo nos pacientes que estão hospitalizados). Dores musculares, dores de cabeça, tontura e fraqueza generalizada puderam ser identificados em cerca de 1/3 dos pacientes na China, Europa e EUA. A famosa redução do olfato (anosmia), possivelmente pela invasão do nervo olfatório pelo vírus e sua inflamação, e as alterações da percepção do sabor (disgeusia) podem chegar a representar 48% dos pacientes, e hoje é vista bem inicialmente no processo infeccioso. Casos mais raros, e bem graves como o acidente vascular cerebral (AVC) e hemorragia cerebral (o AVC hemorrágico), assim como a trombose venosa cerebral (TVC) também podem ocorrer, mas representam apenas 0.4 a 2.7% dos pacientes internados”, explica o médico.

Segundo o Dr. Gabriel, para tratar as sequelas, o médico pode dar um suporte direcionado para qual sintoma prevaleça, e qual destes sintomas impacta mais na vida do paciente. “Mas é fundamental buscar um equilíbrio por todos os lados, como uma boa alimentação, exercício físico regular, cuidados com a mente (psicoterapias, meditação e outros) e reabilitação das funções que foram prejudicadas, como pulmão. Isso será imprescindível, e depende quase que absolutamente do paciente, então seja proativo e cuide de você mesmo, enquanto a ciência trabalha para facilitar nossa recuperação pós Covid-19”, finaliza o médico.

FONTE: *DR. GABRIEL NOVAES DE REZENDE BATISTELLA: Médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Formado em Neurologia e Neuro-oncologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, hoje é assistente de Neuro-Oncologia Clínica na mesma instituição. O médico é o representante brasileiro do International Outreach Committee da Society for Neuro-Oncology (IOC-SNO).