Artigo publicado pela revista científica Research on Biomedical Engineering aponta que o Robô Laura reduziu de 305 para 280 minutos o tempo médio de atendimento a pacientes com risco de infecção hospitalar, ajudando a salvar vidas
A inteligência artificial tem ajudado a salvar vidas de pacientes em internamento hospitalar. Uma pesquisa publicada na revista científica Research on Biomedical Engineering, organizada pela Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica, mostrou que a LAURA, primeiro robô gerenciador de riscos do mundo – criado no Brasil -, está aumentando a eficácia no atendimento a pacientes com risco de Sepse (infecção generalizada) e salvando vidas.
O estudo foi desenvolvido a partir da dissertação de Mestrado de Aline Kalil, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Aline comparou o período de seis meses antes e depois da implantação do Robô Laura no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba (PR), e constatou que houve uma redução no tempo médio de atendimento (inclusão de registros no prontuário eletrônico), passando de 305 para 280 minutos, o que representa um impacto positivo no desempenho da equipe assistencial.
“Quando se trata de sepse, o tempo é vida. Identificar precocemente e tratar adequadamente é o que pode contribuir para salvar a vida do paciente. Quando a gente tem ajuda de ferramentas tecnológicas, as ações assistenciais podem ficar mais rápidas e seguras. A grande melhoria decorrente da Laura é que ela avisa a equipe assistencial quando o paciente está piorando, para agir antes que o quadro se agrave”, diz Aline.
Em relação ao tempo médio até a prescrição de antibiótico a partir do primeiro sinal identificador de infecção, com ou sem sepse, passou de 390 para 109 minutos. Os dados coletados referem-se a 2016, quando o Robô Laura estava em fase inicial. Nesses dois últimos anos, o software já foi aperfeiçoado, aumentando ainda mais sua eficácia. Criado pelo arquiteto de sistemas Jacson Fressatto e pelo mestre em Inteligência Artificial Cristian Rocha, o Robô Laura usa a inteligência artificial para ler as informações dos pacientes e emitir alertas que são enviados à equipe médica com o objetivo de sinalizar o quadro de pacientes com riscos de infecção generalizada, além de alertar com antecedência outros casos de deterioração. Além de ajudar a salvar vidas, o software é um instrumento para otimização de tempo e recursos em saúde. Atualmente, funciona em cinco hospitais brasileiros e já monitorou mais de 1 milhão de pacientes.
Riscos da Sepse
Segundo o Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS), a sepse é responsável por 25% das taxas de ocupação do leito em UTI no Brasil e sua mortalidade associada pode variar de 29,6% a 54,1% nos hospitais privados e públicos, respectivamente. Além disso, a doença é a mais cara no setor da saúde. De acordo com o artigo publicado na Research on Biomedical Engineering, o custo dos cuidados para um paciente com sepse é seis vezes maior do que um paciente sem sepse, com o custo aproximado de US$ 25.000 por paciente, perfazendo um total de US$ 17 milhões por ano.
“O uso de tecnologia na área da saúde tem alavancado nos últimos anos, com excelente recepção do setor”, afirma Rubens Alexandre de Faria, professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica da UTFPR e pós-doutor em Bioengenharia pela Universidade de Auckland. Faria foi orientador da dissertação de mestrado produzida por Aline Kalil e é um dos autores do artigo. “É importante destacar que quanto mais tempo sem o devido o tratamento, maiores as chances do paciente ir a óbito. Nesse sentido, a detecção da sepse por meio da inteligência artificial diminui os riscos e não deixa os sintomas geradores da sepse se prolongarem, o que também diminui os gastos com medicamentos”, explica o docente. Segundo ele, o Robô Laura mostrou extrema relevância para a qualidade da assistência médica ao apoiar as decisões clínicas e reduzir a mortalidade nas UTIs.
Co-fundador e diretor de tecnologia da Laura, Cristian Rocha afirma que a melhor forma de validar o trabalho em algoritmos é por meio da comunidade científica. “A pesquisa feita por acadêmicos com expertise em suas áreas de atuação e sem vínculo com a empresa garante a isenção dos dados apresentados. Grande parte das startups que trabalham com inteligência artificial não têm esse tipo de validação”, avalia.
Sobre a Laura
A Laura é uma tecnologia implantada nos hospitais para identificação precoce dos riscos de sepse. O recurso foi criado pelo arquiteto de sistemas Jacson Fressatto após a morte de sua filha. Ativo desde 2016 e funcionando em cinco hospitais do Brasil, a plataforma monitora cerca de 60 mil pacientes por ano e já reduziu em média 9% a incidência de casos de infecção hospitalar. Em 2018, a tecnologia abriu a oportunidade de outras pesquisas, tendo a segurança do paciente como objeto de estudo no programa de pós-doutorado da Universidade de Harvard da professora Luciana Schleder Gonçalves. O objetivo é validar os resultados da tecnologia cognitiva, para poder implantá-lo em hospitais parceiros de Harvard e de outros países. Saiba mais em: www.laura-br.com