A visão de quem viveu a doença
Cesar Cavalcante foi diagnosticado com um adenocarcinoma, o tipo mais comum de câncer no estômago. Embora o tumor fosse agressivo, a identificação precoce foi essencial para um melhor prognóstico. Para Cesar, o maior desafio foi o medo constante: “Medo de pesquisar sobre a doença, do que o médico diria na próxima consulta e dos resultados dos exames”. Ele destaca a importância do apoio emocional: “Ter uma rede de apoio, com familiares, amigos e profissionais, faz toda a diferença. A recuperação não é só física e falar sobre o processo ajuda outros pacientes a entenderem que não estão sozinhos. Busquei ajuda de uma psicóloga, que me orientou a manter meus objetivos de vida, apesar da doença. Foi difícil, mas essa orientação me ajudou a seguir em frente.”
O Dr. André Murad complementa: “O tratamento do câncer gástrico é multidisciplinar e o suporte psicológico é uma parte crucial para que os pacientes enfrentem os desafios dessa jornada com mais confiança.”
O olhar do especialista: o câncer gástrico e seus desafios
Dr. Murad alerta sobre o cuidado com a automedicação e a importância de procurar um médico ao persistirem sintomas como má digestão, dor de estômago e azia. “Devido à semelhança dos sintomas iniciais com condições mais simples, muitas pessoas optam pela automedicação, o que cria uma falsa sensação de segurança e pode atrasar o diagnóstico, enquanto o câncer continua a progredir. Se os sintomas durarem mais de duas semanas, é essencial buscar avaliação médica e realizar exames, como a endoscopia digestiva, que pode detectar o câncer em seus estágios iniciais, ajudando a reduzir as taxas de mortalidade.”
Segundo o Cesar Cavalcante, a conscientização é uma ferramenta crucial para o diagnóstico prévio. “A falta de discussão ainda é evidente. Saber identificar os sinais é fundamental para que o diagnóstico não seja realizado tardiamente. Quanto mais cedo identificamos as manifestações, maiores são as chances de sucesso no tratamento. Eu sou a prova de que a detecção precoce pode salvar vidas.”
Fatores de risco e prevenção
Segundo o oncologista, os principais fatores de risco para o câncer gástrico incluem a infecção pelo Helicobacter pylori, tabagismo, consumo excessivo de álcool e uma alimentação inadequada. Ele ressalta: “Essas causas são evitáveis e os hábitos de prevenção envolvem medidas simples, como manter uma dieta equilibrada, evitar cigarro e álcool em excesso, tratar a infecção por H. pylori e realizar exames regulares.”
O que pode ser feito para aumentar a conscientização?
Ambos, o médico e o paciente, concordam que uma maior visibilidade é essencial. Dr. André acredita que a resposta está em ações que já funcionam para outros tipos de câncer: “Hoje vemos campanhas eficazes para cânceres como o de mama, próstata e pulmão, com destaque nas mídias, nos consultórios e nas políticas públicas. Nós vemos o impacto positivo que essas iniciativas têm na conscientização. Esse mesmo esforço precisa ser feito para o câncer gástrico. A democratização do acesso também é fundamental, tanto para a endoscopia digestiva, facilitando diagnósticos antecipados, quanto para o tratamento, sendo necessária a redução de longas filas, especialmente no sistema público de saúde, que ainda requer investimentos e melhorias.”
“O caminho é trazer o tema para o centro das discussões. Precisamos de campanhas públicas e de mídia para que as pessoas saibam identificar os sinais, entendam a importância da detecção precoce e as formas de prevenção. Acredito que falamos pouco sobre câncer gástrico porque o câncer ainda é um tabu. Quanto mais falarmos sobre o tema, mais chances teremos de mudar esse cenário. A informação é nossa maior aliada”, finaliza Cesar.
O futuro do tratamento
Nos últimos anos, novas abordagens terapêuticas, como imunoterapia e terapias-alvo, têm oferecido esperança aos pacientes com câncer gástrico. O Dr. André Murad destaca que a medicina de precisão está revolucionando o tratamento oncológico: “Com a análise dos biomarcadores, conseguimos direcionar terapias mais eficazes para cada tipo de tumor, o que tem se mostrado fundamental para melhorar a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes.”
Referências:
1 – INCA, Instituto Nacional de Câncer. Câncer de estômago. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/estomago. Acesso em: 11 set 2024.
2 – Bray F, Ferlay J, Soerjomataram I, Siegel RL, Torre LA, Jemal A. Global cancer statistics 2018: GLOBOCAN estimates of incidence and mortality worldwide for 36 cancers in 185 countries. CA Cancer J Clin. 2018;68:394-424.
3 – INSTITUTO ONCOGUIA. Sinais e sintomas do câncer de estômago. Disponível em: https://www.oncoguia.org.br/conteudo/sinais-e-sintomas-do-cancer-de-estomago/5610/274/#:~:text=Como%20os%20sintomas%20do%20c%C3%A2ncer%20de%20est%C3%B4mago,Cancer%20Society%2C%20em%2014/12/2017%2C%20livremente%20traduzido%20e. Acesso em: 11 set. 2024.
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