Parou de fumar e aumentou consumo de fast food e comida calórica? Estudo explica por que isso ocorre

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Publicado no final de setembro no Journal of Drug and Alcohol Dependence, estudo mostra conexão clara entre a abstinência da nicotina e hábitos alimentares inadequados. Descobertas apontam para o sistema opióide, responsável pelo vício e regulação do apetite, como uma possível causa

É uma história comum: ex-fumantes, quando largam o cigarro, tendem a aumentar o consumo de alimentos considerados “junk foods” (hiperpalatáveis, calóricos e pobres nutrologicamente). Um estudo recente da Escola de Medicina da Universidade de Minnesota demonstrou que realmente há uma conexão clara entre a abstinência de nicotina e hábitos alimentares inadequados. “As descobertas apontam para o sistema opióide, as funções cerebrais responsáveis pela compulsão alimentar e regulação do apetite, como uma possível causa para a preferência do fumante por alimentos altamente calóricos e com alta densidade energética durante a abstinência da nicotina. Isso pode levar ao ganho de peso, para quem deixa o vício, o que, por sua vez, pode aumentar o risco de recaída”, afirma a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). O estudo foi publicado no final de setembro no Journal of Drug and Alcohol Dependence.

O trabalho examinou se (e de que forma) a abstinência aguda da nicotina aumenta ou não a ingestão de junk food – rica em sal, gordura e açúcar – e como os receptores de alívio do estresse do sistema opióide estão envolvidos. “Mitigar esses desafios durante o processo de tratamento ajudará os pacientes a parar de fumar, ao mesmo tempo em que compreende seus hábitos alimentares e encoraja decisões mais saudáveis”, diz a médica.

A equipe estudou um grupo de participantes fumantes e não fumantes com idades entre 18 e 75 anos durante duas sessões de laboratório. Todos foram designados aleatoriamente para fazer uma retirada de 24 horas dos produtos de nicotina e administrado um placebo ou 50 mg de naltrexona, medicamento utilizado como antagonista opióde (e em uso off label na compulsão alimentar). Ao final de cada sessão, os participantes receberam uma bandeja com itens de lanche que diferiam em densidade de alta a baixa energia e dimensões de salgado, doce e gorduroso. O estudo descobriu que:

Fumantes submetidos à abstinência de nicotina consumiram mais calorias do que os não fumantes. “Esses participantes também foram menos propensos a selecionar alimentos ricos em gordura após a administração da naltrexona do que o placebo. As descobertas do estudo podem estar relacionadas ao uso de alimentos, especialmente aqueles ricos em calorias, para lidar com o afeto negativo e a angústia que caracterizam os sentimentos que as pessoas experimentam durante a abstinência de fumar. Resultados de pesquisas pré-clínicas e clínicas apoiam isso e demonstram que o estresse aumenta a propensão para alimentos ricos em gordura e açúcar”, explica a Dra. Marcella.

A naltrexona normalizou a ingestão de calorias para os níveis observados em não fumantes, sugerindo que o sistema opióide pode ser um mecanismo de ingestão de calorias induzido pela abstinência. “Esta é uma descoberta nova no contexto da dependência da nicotina e tem muitas implicações para o desenvolvimento de tratamentos futuros. A escolha e o consumo de alimentos foram influenciados pelo histórico de fumantes dos participantes”, explica a médica.

Os pesquisadores estão agora se concentrando no impacto das mudanças no apetite no ganho de peso após a interrupção do vício e na extensão em que essas mudanças impedem a cessação do tabagismo e aumentam o risco de recaída. Trabalhos futuros serão críticos para identificar os mecanismos dessas mudanças e podem ser direcionados para intervenções terapêuticas. “Essas descobertas estendem os estudos anteriores que indicam o impacto do uso do tabaco no apetite e ajudam a identificar a influência de uma importante ligação biológica, o sistema opióide do cérebro, no desejo durante a abstinência da nicotina. O medo de ganhar peso é uma grande preocupação entre os fumantes que pensam em parar de fumar. A chave para remover essas barreiras é entender melhor os fatores que aumentam o desejo por alimentos altamente calóricos. O mais importante é buscar auxílio e acompanhamento nutrológico quando decidir parar de fumar. Com isso, é possível estabelecer uma estratégia que inclua a prática de exercícios físicos e um plano alimentar adequado para o contexto do paciente, além da administração de suplementos, fitoterápicos e, se for o caso, medicamentos para evitar o ganho de peso e o retorno à dependência do cigarro”, finaliza a médica nutróloga.

FONTE:

*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.