Networking involuntário: como é possível conectar pessoas de forma genuína?

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*Por André Duek

Você já ouviu falar em networking, certo? E quando esse termo vem acompanhado pela palavra “involuntário”? Acredito que esse conceito ainda tenha chegado aos seus ouvidos. Mas eu descobri esse termo “networking involuntário” sem saber. Eu o pratico desde quando era mais jovem, mas não tinha ideia de que ele poderia ter esse nome. Mas, de fato, o que é o networking involuntário?

Como o próprio nome diz, é um movimento involuntário, que não tem o objetivo de conectar pessoas com fins comerciais – não é baseado em fazer negócios. Ele acontece de forma natural, que tem como base um interesse genuíno em criar um vínculo com o outro para a troca de experiências. Eu me lembro de quando eu era criança e um amigo me convidava para ir em sua casa conhecer a nova bicicleta dele – vim de família humilde e eu não tinha muito acesso a esse tipo de brinquedo. Eu fui junto com os demais, que tinham interesse em andar na nova magrela dele, porém sem esse mesmo objetivo. Ia apenas para ficar próximo deles, brincar, rir e conversar. No fim, esse amigo me chamou para andar na bicicleta dele e não fez o mesmo com aqueles que foram até lá com essa intenção.

Avançando vários anos, eu comecei a trabalhar como office-boy na empresa de moda do meu tio e em 18 anos cheguei ao cargo de diretor. Esse período poderia ter sido mais rápido se eu tivesse praticado o networking tradicional. Mas apesar de as pessoas não terem interesse em fazer networking comigo quando eu estava iniciando a minha carreira, eu queria me conectar com elas.

Eu nunca fui fã de ficar distribuindo cartão de visitas e participar de eventos com finalidades comerciais. O porteiro da indústria onde eu trabalhava me conhecia desde pequeno e me chamava de Andrezinho. Quando eu me tornei CEO, ele ainda estava lá e me chamava de “sr. André”. Eu disse a ele que o conhecia desde moleque e não queria ser chamado dessa forma. Apenas André bastava. Mas eu não sabia que atrás de mim estava um cliente da empresa, que, ao entrar na fábrica, foi falar para o dono dela que esse era o tipo de empresa com quem ele gostaria de se relacionar.

Ao longo de 37 anos de carreira, os exemplos que eu coleciono de networking involuntário são inúmeros – em meu livro Potência Empreendedora eu conto diversos casos interessantes. O que eu percebo é que cada vez mais o networking tradicional aos poucos está caindo em desuso. No modelo tradicional, as pessoas ficam ansiosas em fazer negócio e se conectam com as outras pessoas pelo que ela faz, e não pelo que ela é. Infelizmente, nossa sociedade valoriza os profissionais que tem boa performance, mesmo que ele não seja um ser humano íntegro. Isso é muito sério, e acaba desanimando aqueles que têm a retidão como prática de vida.

A minha essência, ligada ao networking involuntário, abriu grandes portas para a minha vida profissional – ele tem um poder social transformador. Há 11 anos, após trabalhar duramente, decidi mudar para os Estados Unidos com a minha família e comecei uma nova fase. Me aventurei no empreendedorismo, fundei várias empresas que estão prosperando graças a essa forma que eu tenho de compreender as relações humanas. Em minha boutique imobiliária, eu tenho clientes brasileiros, americanos, latinos, sendo que muitos deles chegaram até mim por essa forma de praticar networking, que gera muito mais recomendações, conexões e negócios.

O que acontece é que as pessoas não têm paciência para colher os frutos de um networking involuntário – não querem demorar para crescer na vida e ganhar dinheiro. Se bem construído, essa nova forma de fazer networking gera bases sólidas, com o prazer de dividir momentos e experiências de vida, pela vontade de estar disponível quando o outro precisar. A realização de negócios acontece espontaneamente como consequência dessa maneira de se relacionar.

Outro exemplo interessante que vale a pena dividir ocorreu no grupo de pôquer que eu participo no meu condomínio – aliás, esse é um dos meus hobbies favoritos e o levo muito a sério. Durante um jogo com um grupo de amigos, um deles comentou que um amigo em comum descobriu uma doença degenerativa e não tinha condições financeiras para custear o tratamento – ele estava desempregado, com filhos para sustentar e sem plano de saúde.

Na hora, tive a ideia de fazer uma vaquinha diferente, já que uma tradicional não resolveria o problema dele – o valor total do tratamento ficaria em torno de US$ 200 mil. Sugeri que cada um concedesse US$ 100 e eu iria levar esse valor para jogar em um torneio. Muitos deram risada, mas outros apostaram na ideia. O que aconteceu é que eu fui lá, joguei e trouxe para casa US$ 28 mil – valor que eu não ganhei em três anos jogando pôquer nos EUA – e doei o valor integralmente para cobrir os gastos da primeira etapa do tratamento desse amigo. Logo depois, três integrantes do grupo vieram pedir para eu vender o imóvel deles por conta da minha postura naquela situação.

O futuro do networking involuntário ainda tem uma longa estrada pela frente até se tornar um conceito disseminado entre as pessoas. Não se fala sobre esse assunto, enquanto se você for pesquisar sobre o networking tradicional, há cinco mil artigos na internet sobre o assunto. Mas as redes sociais têm mostrado seu grande poder de se tornar um grande agente dessa transformação. Eu acredito nela e espero ver muita gente colhendo seus frutos.

*André Duek é sócio fundador do Duek Lara Group, da Duek Motorhomes, do 1BRZ Group, ex-CEO do Grupo Forum, escritor e palestrante.