Esqueça as receitas caseiras na hora de proteger a pele! Os danos solares são imediatos, por isso a pele fica vermelha. Mas eles também persistem e danificam o DNA em até três horas, o que causa envelhecimento e câncer de pele

Nada substitui o filtro solar na hora de proteger a pele contra os danos solares. “O filtro solar é o mais seguro mecanismo de proteção contra os raios UV. Não existe receita caseira para substituí-lo”, salienta a dermatologista Dra. Thais Pepe, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia. Essa preocupação é valiosa, pois os efeitos da radiação solar na pele são cumulativos, ou seja, as consequências podem surgir anos depois. Mas, no momento em que entra em contato com a pele, o que a radiação provoca? “Primeiro, precisamos entender as duas radiações: o UVA é o principal responsável pelo envelhecimento precoce (manchas e rugas), sendo um tipo de radiação que atravessa nuvens, vidro e epiderme e penetra na pele em grande profundidade, até as células da derme – sendo o principal produtor de radicais livres. Entre os prejuízos: desde lesões mais simples até, em casos mais graves, câncer de pele. Já o UVB deixa a pele vermelha e queimada, danifica a epiderme e é mais abundante entre às 10 da manhã e às 4 da tarde. Essa radiação pode furar o bloqueio dos filtros químicos e aumentar o risco de cancerização”, comenta a dermatologista. “Mas já sabemos que nos primeiros 20 minutos de exposição solar, a radiação é capaz de reduzir nossas defesas da pele, em um dano que vai perdurar”, acrescenta.

Nos primeiros 20 minutos – Nesse período, a pele já começa a sofrer oxidação por conta dos radicais livres, que geram vasodilatação, inflamação e vermelhidão – de acordo com a potência dos raios, segundo a médica. “Então, não adianta chegar à praia ou à piscina e esperar para passar o protetor solar nesse momento, porque há necessidade de, pelo menos, 20 a 30 minutos para que esse filtro solar comece a agir e nesse período já ocorre um ‘ataque’ importante em relação às células da pele”. Mas esse dano vai além…

Após 3 horas – Esse dano imediato da radiação persiste e se intensifica a partir de três horas. “A célula começa a ficar mais danificada e seu material genético sofre, por consequência, mutação, no qual há produção de dímeros no DNA, isto é, a troca de informações de ligação, desestabilizando esse material genético”, afirma. “Todo esse dano ao DNA leva à expressão do P53, uma proteína que em alta quantidade é ruim, pois vai gerar deficiência de agentes antioxidantes, genes que vão levar à morte celular, resultando no envelhecimento”, conta. Além disso, de acordo com a Dra. Thais, a formação de dímeros criam alteração significativa e irreversível principalmente no melanócito, ou seja, a célula protetora de cor, que vai continuar por até três horas (por isso a pele fica vermelha), tendo lesões posteriores e que podem inclusive levar a um processo de cancerização. “Nós sabemos por exemplo que o melanoma é um câncer de pele extremamente agressivo com alta capacidade de metástase e é oriundo dessas células que são os melanócitos”, afirma.

De 48 a 72 horas – O bronzeado, aquele transitório, aquele rosa avermelhado, o dourado, ele ocorre nas primeiras horas depois da exposição solar. “Mas só depois de 48 a 72 horas é que vamos ter a resposta da produção da melanina, seja ela castanha enegrecida ou amarela avermelhada, dependendo do fototipo do paciente. Esse bronzeado vai se depositar na pele como uma resposta fisiológica contra a agressão sofrida”

Todo esse processo ocorre quando há a exposição solar de um dia. Esse bronzeado pode durar até três ou quatro semanas e depois pelo próprio processo natural de renovação da camada mais superficial da pele, há uma perda gradual dessa pigmentação. “Outro dado importante e comum nas peles fotoenvelhecidas, aquelas peles que se expuseram muito ao sol, é a presença das sunburn cells, as células queimadas pelo sol”, afirma. Segundo a médica, as sunburn cells estão presentes quando houve a quebra da barreira, ou seja, a pele não conseguiu se proteger, o filtro solar estava aquém da necessidade para aquele fototipo, ou o estímulo solar foi prolongado demais, ou não houve a reaplicação desse filtro solar. “E por conta disso, a pele começa a sofrer uma série de alterações, todos decorrentes de um primeiro processo inflamatório, onde ocorre o eritema, a vasodilatação, o aumento da perfusão sanguínea, a sensação de calor local, depois o processo de ardência e, então, já começam os processos oxidativos, que é a formação dos radicais livres e superóxidos que causam um envelhecimento precoce das nossas células. Além disso, pela exposição solar contínua, deixamos de ter a defesa imunológica feita pelas células de Langerhans, e quando isso acontece, nós aumentamos a chance de cancerização da nossa pele”, alerta a médica.

Por fim, a Dra. Thais ressalta que o filtro solar deve ser passado na pele do corpo todo sem qualquer vestimenta, trinta minutos antes da exposição solar e reaplicado a cada duas horas em média, com uso de chapéu e óculos. “Além disso, aqueles que querem ir à praia, devem respeitar os horários recomendados que são: até 10h da manhã e depois das 4h da tarde”, finaliza.

Dra Thais Pepe: Dermatologista especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, membro da Sociedade de Cirurgia Dermatológica e da Academia Americana de Dermatologia. Diretora técnica da clínica Thais Pepe, tem publicações em revistas científicas e livros, além de ser palestrante nos principais Congressos de Dermatologia.

 

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