Mudar para uma dieta balanceada restaura saúde intestinal e suprime a inflamação da pele, diz estudo

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Estudo publicado em junho no Journal of Investigative Dermatology destaca que o segredo para uma pele e articulações mais saudáveis pode residir nos microrganismos intestinais, na medida em que uma dieta rica em açúcar e gordura pode contribuir para doenças inflamatórias da pele, como a psoríase

O segredo para uma pele e articulações mais saudáveis pode residir nos microrganismos intestinais. Um estudo recente, publicado em junho no Journal of Investigative Dermatology e liderado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, descobriu que uma dieta rica em açúcar e gordura leva a um desequilíbrio na cultura microbiana do intestino e pode contribuir para doenças inflamatórias da pele, como a psoríase. “O mesmo estudo sugere o poder de uma boa alimentação, na medida em que a mudança para uma dieta mais equilibrada restaura a saúde do intestino e suprime a inflamação da pele”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). “Estudos anteriores já demonstraram que a dieta ocidental, caracterizada por seu alto teor de açúcar e gordura, pode causar inflamação significativa da pele e crises de psoríase. Apesar de ter medicamentos anti-inflamatórios que são usados para tratar a doença da pele, esse estudo indica que mudanças simples na dieta também podem ter efeitos significativos na psoríase”, acrescenta a dermatologista Dra. Letícia Bortolini, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Segundo a dermatologista, a psoríase é uma doença ‘teimosa’ da pele ligada ao sistema imunológico do corpo. “Quando as células do sistema imunológico atacam por engano as células saudáveis da pele, elas causam inflamação da pele e a formação de escamas e manchas vermelhas que coçam. Até 30% dos pacientes com psoríase também têm artrite psoriática com sintomas como rigidez matinal e fadiga, dedos das mãos e pés inchados, dor nas articulações e alterações nas unhas”, explica a Dra. Letícia.

O estudo descobriu que a dieta afeta o equilíbrio microbiano nos intestinos e a inflamação da pele. “A comida é um dos principais fatores modificáveis que regulam a microbiota intestinal, a comunidade de microrganismos que vivem nos intestinos. Comer uma dieta ocidental pode causar mudanças rápidas na comunidade microbiana do intestino e em suas funções. Esta perturbação no equilíbrio microbiano – conhecida como disbiose – contribui para a inflamação intestinal”, explica a Dra. Marcella. Uma vez que as bactérias no intestino podem desempenhar papéis importantes na formação da inflamação, os pesquisadores queriam testar se a disbiose intestinal afeta a inflamação da pele e das articulações. Eles usaram um modelo de camundongo para estudar o efeito da dieta na psoríase e na artrite psoriática, medindo sinais de inflamação como a IL-23, uma proteína gerada pelas células imunológicas responsáveis por muitas reações inflamatórias autoimunes, incluindo psoríase e doença inflamatória intestinal (DII). “Os autores descobriram que uma dieta ocidental de curto prazo parece ser suficiente para causar desequilíbrio microbiano e aumentar a suscetibilidade à inflamação da pele semelhante à psoríase mediada por esse mediador inflamatório (IL-23). Há uma ligação clara entre a inflamação da pele e mudanças no microbioma intestinal devido à ingestão de alimentos”, diz a médica nutróloga. O equilíbrio bacteriano no intestino foi interrompido logo após o início de uma dieta ocidental, e piorou a pele psoriática e a inflamação das articulações, segundo o estudo.

Uma descoberta crítica do trabalho foi identificar a microbiota intestinal como um elo patogênico entre a dieta e as manifestações de inflamação psoriásica. Mas afinal, o dano causado por uma dieta pouco saudável é reversível? Os pesquisadores queriam testar se a mudança para uma dieta balanceada pode restaurar a microbiota intestinal, apesar da presença de proteínas inflamatórias IL-23. Eles alimentaram ratos com uma dieta ocidental por seis semanas antes de dar-lhes um agente indutor de IL-23 para desencadear os sintomas de psoríase e artrite psoriática. Em seguida, eles dividiram os ratos aleatoriamente em dois grupos: um grupo que continuou a dieta ocidental por mais quatro semanas e um grupo que mudou para uma dieta balanceada pelo mesmo período. “O estudo mostrou que comer uma dieta rica em açúcar e gordura por 10 semanas predispôs os ratos a inflamação da pele e articulações. Os ratos que foram mudados para uma dieta balanceada tiveram menos escamação da pele do que os ratos em uma dieta ocidental. A melhora na inflamação da pele em ratos retirados da dieta ocidental indica um impacto rápido da melhora da alimentação na diminuição da inflamação da pele”, explica a dermatologista Dra. Letícia. “Isso sugere que mudanças na dieta podem reverter parcialmente os efeitos pró-inflamatórios e a alteração da microbiota intestinal causada pela dieta ocidental”, acrescenta.

Segundo a Dra. Marcella, apesar do estudo ter se concentrado apenas na psoríase, várias evidências dão conta de que a melhora na dieta também é capaz de diminuir a inflamação associada à piora da acne, dermatites e aceleração do envelhecimento cutâneo. “De qualquer forma, uma boa alimentação, equilibrada e com boa ingestão de fibras, sem excessos em açúcar e gordura de má qualidade, é capaz de trazer diversos benefícios para a pele e evitar muitas doenças. Por isso, é essencial o auxílio de um médico nutrólogo para ajustar os desequilíbrios da sua dieta”, finaliza a Dra. Marcella.

FONTES:

*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.

DRA. LETÍCIA BORTOLINI: Dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. À frente da clínica Enlapy, em Cuiabá, a médica é formada em Medicina pela Universidade de Cuiabá, com especialização em Dermatologia pela Fundação Souza Marques (São Paulo/SP) e em Clínica Médica pelo Hospital Guilherme Álvaro (Santos/SP).