Estudo pode explicar como compostos químicos em cosméticos causam dermatite alérgica de contato

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Estudo publicado no começo de janeiro na Science Immunology sugere que algumas substâncias químicas deslocam moléculas naturais de gordura (chamadas lipídios) nas células da pele, fazendo com que as células imunológicas reconheçam a substância como estranha, causando a dermatite alérgica de contato

As reações alérgicas na pele podem ser causadas por muitos compostos químicos diferentes encontrados em cremes, cosméticos e outros produtos de consumo tópico, mas como eles desencadeiam a reação ainda é um mistério. Mas um novo estudo publicado em 3 de janeiro de 2020 na revista Science Immunology está perto de descobrir o mecanismo que causa a dermatite alérgica de contato. “Atualmente, a única maneira de interromper a dermatite alérgica de contato é identificar e evitar o contato com o produto químico ofensivo. Pomadas tópicas podem ajudar a acalmar as erupções cutâneas, que geralmente desaparecem em menos de um mês. Em casos graves, os médicos podem prescrever corticosteróides orais, agentes anti-inflamatórios que suprimem o sistema imunológico, aumentando o risco de infecções e outros efeitos colaterais. Descobrir o mecanismo pelo qual os compostos químicos podem causar a dermatite pode ajudar na melhora do tratamento”, afirma a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. O estudo foi liderado por pesquisadores do Centro Médico Irving da Universidade de Columbia, do Hospital Brigham and Women e da Universidade Monash.

O novo estudo sugere que algumas substâncias químicas deslocam moléculas naturais de gordura (chamadas lipídios) nas células da pele, podendo explicar como ingredientes comuns desencadeiam a dermatite alérgica de contato e, de maneira encorajadora, sugere uma nova maneira de tratar a doença. “Uma reação alérgica começa quando as células T do sistema imunológico reconhecem um produto químico como estranho. As células T não reconhecem diretamente pequenos produtos químicos, e as pesquisas sugerem que esses compostos precisam passar por uma reação química com proteínas maiores para se tornarem visíveis às células T”, diz a médica. Os pesquisadores suspeitam que uma molécula abundante (CD1a) nas células imunes da camada externa da pele (células de Langerhans) são responsáveis por fazer a substância química visível às células T, o que ativa sua função e causa a dermatite. Esses produtos químicos incluíam o benzoato de benzila, o cinamato de benzila e o farnesol, encontrados em muitos produtos de cuidados pessoais, como cremes para a pele, creme dental e fragrâncias. “Esses pequenos produtos químicos ativaram as células do sistema imunológico através dessa molécula da célula de Langerhans, a CD1a”, diz a médica.

As moléculas de CD1a normalmente ligam os lipídios naturais da pele em seu interior como um túnel. Esses lipídios se projetam, criando uma barreira física que impede a CD1a de interagir com as células T. O farnesol, por exemplo, é um dos alérgenos identificados neste estudo que pode se esconder dentro do túnel do CD1a, deslocando os lipídios naturais. “Esse deslocamento torna a superfície do CD1a visível para as células T, causando uma reação imune”, diz o estudo.

Essa descoberta é importante, pois ela aumenta a possibilidade de que a dermatite alérgica de contato possa ser interrompida aplicando lipídios concorrentes na pele para deslocar aqueles que desencadeiam a reação imune. Segundo a pesquisa, em estudos anteriores, já foram identificados vários lipídios que podem se ligar ao CD1a, mas não ativam as células T”, diz a pesquisa. “E isso pode ser importante para novos tratamentos da dermatite, que evitem os efeitos colaterais. Mas outras pesquisas ainda devem ser feitas para confirmar esse resultado”, finaliza a médica.

DRA. PAOLA POMERANTZEFF: Dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), tem mais de 10 anos de atuação em Dermatologia Clínica. Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina Santo Amaro, a médica é especialista em Dermatologia pela Associação Médica Brasileira e pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, e participa periodicamente de Congressos, Jornadas e Simpósios nacionais e internacionais. http://www.drapaola.me/

LINK: https://immunology.sciencemag.org/content/5/43/eaax5430