Com 33,49% de adultos autistas graduados, Curitiba lidera no ensino superior, mas segue com desafios de inclusão no trabalho, saúde e espaços públicos

Curitiba é a segunda capital brasileira com maior proporção de adultos autistas com ensino superior completo, segundo dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dos 13.268 curitibanos com mais de 25 anos que declararam ter Transtorno do Espectro Autista (TEA), 4.444 concluíram a graduação. O número representa 33,49% do total — mais que o dobro da média nacional, que é de 15,69%. A capital paranaense fica atrás apenas de Florianópolis (SC), que lidera o ranking.

Para o professor Sampaio, especialista em inclusão de pessoas neurodivergentes, os números são positivos, mas não retratam a complexidade da realidade vivida por essa população. “É preciso entender que a inclusão de verdade vai além do acesso à educação formal. Trata-se de garantir que pessoas autistas possam viver plenamente em sociedade, com apoio, respeito, autonomia e dignidade”, afirma.

Sampaio destaca que o sucesso acadêmico de pessoas com TEA está frequentemente relacionado à presença de redes de apoio familiares, adaptações pedagógicas e ambientes acolhedores. “Ainda vivemos em uma sociedade que espera que a pessoa autista se encaixe em padrões neurotípicos. A verdadeira inclusão só ocorre quando a sociedade também se transforma para acolher a diversidade neurológica.”

Apesar dos índices educacionais, pessoas autistas ainda enfrentam barreiras significativas no mercado de trabalho, no acesso à saúde e em espaços públicos. “Curitiba mostra que é possível avançar, mas é necessário garantir que a inclusão continue além da sala de aula. O diploma, por si só, não garante pertencimento. É preciso oferecer condições reais de vida digna e participação social”, afirma o professor.

Sampaio ressalta que a inclusão efetiva passa por ações concretas em diversas frentes. “Não adianta garantir uma vaga na universidade ou no emprego se a pessoa autista não tem acesso ao transporte público, se não é ouvida nas decisões que afetam sua vida ou se continua sendo invisibilizada em espaços coletivos.” Para ele, políticas públicas estruturadas, formação continuada para profissionais, acessibilidade sensorial e comunicacional, e o combate ao capacitismo são pontos-chave para uma sociedade verdadeiramente inclusiva.

A análise dos dados do IBGE, segundo o professor, deve servir de alerta e também de estímulo para o fortalecimento de políticas públicas que valorizem a neurodiversidade. “Inclusão não é caridade nem concessão. É um direito. E só se realiza quando é construída com escuta, empatia e compromisso social”, conclui.

Sobre Nilson Sampaio

O especialista trabalha a inclusão por meio da arte e é especialista em inclusão de pessoas com Transtorno do Espectro Autista e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Sampaio iniciou sua carreira artística com apenas 14 anos, contribuindo com diversos veículos de comunicação do país e lançando diversos livros autorais. É graduado em Gravura (EMBAP) e em Licenciatura em Artes Visuais (Unespar). Desde 2013, dedica-se à arte para neurodivergentes.

Sampaio possui especialização em Educação Especial e Inclusão, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), e em Neuroaprendizagem. Além disso, tem formação continuada no trabalho colaborativo pedagógico para o TEA na própria UFPR. Para completar, está concluindo uma Certificação Internacional em Análise do Comportamento QASP-S. Mais informações no perfil oficial do especialista no Instagram: @oprofessorsampaio

foto: divulgação

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