Como trabalha um arquiteto especializado em projetos corporativos

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Maiara Faria

Quando se pensa em escritórios, fábricas, consultórios e outros ambientes empresariais, a primeira imagem à qual as pessoas associam é a um lugar sisudo, em tons neutros, com móveis e decoração desinteressantes. Pode ser uma saída fácil para muitos empresários, mas o impacto que um bom projeto de arquitetura traz ao espaço corporativo é indiscutível. Ela é a peça-chave na construção de um ambiente de trabalho agradável, inspirador e produtivo e é primordial que concilie funcionalidade e estética.

Projetar um ambiente equilibrado requer que o arquiteto tenha repertório em materiais e soluções e, principalmente, fôlego para mergulhar de cabeça no universo da organização. Isso significa colocar em prática observação do dia a dia dentro da empresa, ouvir atentamente o contratante sobre seus objetivos com a reforma ou construção e, claro, ser criativo na aplicação da identidade visual da organização.

Começando com a compreensão dos objetivos da empresa com a nova fase, é de suma importância que o arquiteto oriente seu projeto levando em conta a história da empresa e quais foram as experiências positivas e negativas com layouts e soluções anteriores ao novo projeto. Assim, é possível projetar algo que reflita o momento atual da empresa e sua evolução ao longo dos anos.

Escritório da Addiante, joint-venture da Gerdau e Randon Corp, entregue pelo escritório Maiara Faria Arquitetura em julho. Imagem: Divulgação

Para guiar as diretrizes do projeto, o arquiteto precisa ter clareza do que o contratante espera com a obra. É para atualizar tecnologicamente o escritório? Integrar áreas? Aumentar a colaboração? Esses dados vão guiar o projeto em conjunto com um dos pilares do meu trabalho enquanto arquiteta especializada em projetos corporativos: a observação da rotina e comportamento humano no espaço corporativo.

Ao compreender a dinâmica dos colaboradores durante o expediente e ao verificar as necessidades de espaço para trabalho, convivência e descanso, posso oferecer uma solução pautada na humanização dos ambientes corporativos. E isso muda de acordo com o nicho e o tipo de atividade realizada naquele espaço.

Por exemplo: em um escritório, no qual as pessoas trabalham individualmente em computadores, sentadas o dia todo, precisará de um ambiente para acomodar todos os colaboradores de determinado setor, com espaço para circulação entre as mesas, salas de reuniões, uma área para refeições ou pausas, e assim por diante. Caso a empresa invista em uma área de descanso, o mais adequado para este tipo de empresa seria um espaço com atividades que estimulem a colaboração e sociabilidade entre colegas.

Espaço de convivência e descanso para Habitat Senai: ambiente promove a sociabilidade para colaboradores que trabalham em pequenos times ou individualmente, no computador. Foto: Maiara Faria Arquitetura/Divulgação

Já em um espaço fabril, a natureza do trabalho é outra. As jornadas costumam ser de longos períodos em pé, com ruído frequente, alto fluxo de materiais e pessoas, e trabalho em equipe. Uma sala de descompressão neste tipo de lugar será mais voltada ao relaxamento, com instalação de redes, poltronas de massagem e outros itens que ajudem a reenergizar os colaboradores durante sua pausa. Neste caso, é possível que salas de treinamento sejam mais requeridas do que salas de reunião, por exemplo, e o acesso a vestiário e refeitório precisam ser facilitados e integrados à planta industrial.

Por fim, mas tão importante quanto a funcionalidade, está a estética. Para além da mera reprodução da logomarca na recepção, a arquitetura corporativa leva em conta como refletir a personalidade e cultura da empresa nos interiores a partir do uso de cores, elementos e símbolos, sem tornar sua aplicação cansativa.

As possibilidades variam de acordo com a linguagem possível dentro da identidade visual da marca, e variam entre usar algo mais abstrato em pintura, painéis ou elementos decorativos, até a parte de iluminação e criação de uma atmosfera, com iluminação em neon, por exemplo. Se a logomarca da empresa em questão é verde e cinza, posso aplicar essas cores na nuvem acústica, na iluminação, no tapete, nos móveis e elementos centrais de ambientes.

Em projeto assinado para o Habitat Senai, em que a cor azul da FIEP era uma das cores importantes para apresentar a marca, aplicamos o tom nas espumas do teto e na parede do hall de entrada, o que acabou por emoldurar o ambiente e dar a sensação de estrutura e organização, e traz um primeiro impacto importante para quem está entrando no espaço. Para a parede em que está a logomarca do Habitat Senai, um painel ripado traz aconchego e equilíbrio com a leveza de seu tom claro.

Painel ripado com a logo do Habitat Senai e hall de entrada em azul marinho, cor da FIEP, órgão mantenedor. Foto: Maiara Faria Arquitetura/Divulgação

Selecionar os fornecedores é uma tarefa e tanto. Para cada item a ser usado na obra e nos interiores do projeto, trabalha-se com uma lista de fornecedores para apresentar ao cliente. Assim, para escolher uma cadeira ergonômica, teremos fornecedores com valores que podem ir de R$ 700 a R$ 3 mil, os critérios serão o custo-benefício, bem como o estilo do projeto e o orçamento disponível.

Ainda que seja um desafio encontrado em todas as áreas da arquitetura, o orçamento e o prazo são menos flexíveis quando estamos falando do setor corporativo. Por serem obras de grandes proporções e que exigem um cronograma e logística sincronizados, qualquer alteração e acontecimentos não previstos terão grande impacto financeiro para a empresa e, no caso de atrasos na entrega, dezenas, centenas ou milhares de pessoas terão sua rotina de trabalho prejudicada.

No entanto, a recompensa da área é criar com mais liberdade e contribuir para humanizar ambientes de trabalho. Na maior parte das vezes, os projetos e obras são acompanhados por um boarding da empresa, que direciona as decisões mais importantes, bem como gerencia a contratação dos prestadores de serviço, sob a nossa mediação. Quando chega o primeiro dia de trabalho no novo espaço, o impacto também é grande: não há nada que substitua a satisfação de ver colaboradores e gestores prontos para arregaçar as mangas e começar um expediente mais inspirados pelo nosso trabalho.

Maiara Faria Arquiteta especializada em interiores corporativos com dez anos de experiência. À frente do escritório Maiara Faria Arquitetura, seus projetos focam na humanização dos ambientes de trabalho, desenvolvidos a partir da observação das necessidades dos colaboradores e gestores. Atua também com gestão e coordenação de obras e consultoria. Dentre suas experiências, Maiara integrou a equipe de Jayme Bernardo e passou cerca de três anos em Milão, na Itália, onde iniciou seus projetos autorais.

Foto: Fernando Zequinão