Como a arquitetura pode auxiliar na reabertura das escolas

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Em um cenário ainda incerto, mudanças no espaço físico das escolas podem surgir como uma opção segura e eficiente na diminuição de riscos de contágio

Tema muito debatido nos últimos dias, o retorno das atividades escolares presenciais ainda divide opiniões. Enquanto algumas escolas já têm data marcada para a volta às aulas, entidades governamentais preparam protocolos que serão fundamentais para o andamento do próximo período letivo. A fim de diminuir o risco de propagação da covid-19, foram criadas várias recomendações como, por exemplo, o distanciamento de carteiras dentro de salas de aula, criação de novos espaços de higienização, novos controles de acessos e limitação do uso de áreas comuns.

Recomendações que, além de envolverem os âmbitos da saúde e da educação, exigem adaptações do espaço físico escolar. “É aí que a arquitetura faz toda a diferença”, explica a arquiteta e especialista em projetos para espaços de aprendizado e criatividade, Roberta Jiraschek, da SUM Architecture. Segundo a profissional, o espaço escolar é um participante ativo em qualquer tipo de aprendizagem e importante facilitador da criatividade e liberdade de expressão, tanto de professores, quanto de alunos.

Com os novos requisitos, o grande desafio é de que forma será possível implementar fisicamente todas essas solicitações de maneira a causar um impacto positivo para os estudantes. “A grande pergunta é como nós, arquitetos, juntos com Saúde e Educação, podemos usar esta oportunidade para alavancar mudanças no ambiente de ensino que sejam saudáveis, proporcionem segurança, saúde física e emocional para os usuários”, pontua Roberta.

De acordo com a arquiteta, que também possui experiência adquirida na sua formação em Harvard, algumas alterações de pequeno impacto financeiro, quando bem aplicadas, podem ter um efeito muito positivo. São sugestões que facilitarão a implementação das recomendações do Ministérios da Saúde e Educação e irão colaborar com o bem estar de alunos e professores na reabertura das escolas:

Móvel desenhado pela Sum Architecture | Foto Ricardo Perini

– Esvaziar o que não é necessário dentro da sala de aula e corredores – deste modo é possível perceber que há muito mais espaço do que se imaginava. Além de ser uma recomendação do Ministério da Saúde, também é uma ótima oportunidade para ser mais criativo, usando e acumulando menos material.

– Criar marcações no piso para que as crianças mantenham o distanciamento, caso seja decidido por medição de temperatura. Faixas coloridas e círculos podem ajudar muito e tornar a experiência menos impactante para as crianças.

– Diversificar o layout da sala de aula – Pelo distanciamento recomendado, será muito difícil manter o mesmo número de alunos dentro das salas de aula. Sendo assim, o ideal é usar essa nova condição para criar um espaço mais interessante para as crianças. É possível posicionar o mobiliário da sala de aula de uma maneira que otimize a visualização do professor e facilite o aprendizado, incentivando a criatividade e mantendo a distância ideal.

– Usar cores para identificar usos e comportamentos desejados – as cores podem e devem ser usadas de maneira a incentivar a atividade desejada em cada espaço de ensino. Por exemplo, escolha a cor amarela para identificar locais de higienização, como paredes com displays de álcool em gel ou novas pias, e azul para locais onde a criança possa receber apoio emocional. Além disso, as cores podem ser utilizadas para indicar os fluxos desejas pela instituição, tornando-se uma maneira fácil e divertida de aprender.

– Instalar equipamentos de segurança que possam ser usados por todos – novas pias, displays de álcool gel e aparelhos automáticos de medição de temperatura devem ser instalados na altura correta de maneira que todos possam usar. Além disso, é importante não esquecer dos usuários que possuem necessidades especiais.

– Explorar novas entradas e saídas para evitar acúmulo de crianças – isso ajudará quando forem montados os novos horários de fluxo dos alunos, professores e serviços.

– Criar ambientes de apoio emocional – um para aluno e outro para os professores. Este ambiente deve ser localizado de maneira que mantenha a privacidade do usuário.

– Usar luz/sombra – Como algumas pedagogias já sugerem, criar uma atmosfera mais intimista e mais reservada auxilia no desenvolvimento da criatividade individual, no autorreconhecimento e na liberdade de expressão.

– Criar centros de aprendizagem individuais dentro das salas de aulas e, se possível, estender estes espaços para os corredores, obedecendo sempre as recomendações dos Ministérios da Saúde e Educação. Com um número reduzido de alunos na sala de aula, é possível encontrar um espaço maior para direcionar as crianças que precisam de mais atenção.

– Criar displays para cada criança – espaços, mesmo que pequenos, onde cada um pode guardar seu material, mostrar sua produção intelectual e suas preocupações durante essa fase de transição. Isso fortalecerá atitude de expressão emocional, respeito e organização. Toda criança precisa ter um espaço com o qual ela se identifique dentro da sala de aula.

– Usar informação gráfica adequada para cada idade – isso facilitará muito o entendimento da criança. Por exemplo, para crianças pequenas é indicado usar cores alegres e desenhos simplificados das instruções a serem seguidas.

É importante refletir que o aprendizado é facilitado quando nos sentimos seguros e desenvolvemos uma relação emocional com o ambiente de ensino. Deste modo, muitas destas sugestões são adequações que podem permanecer mesmo quando a normalidade voltar, pois impactam positivamente o bem estar físico e, principalmente, emocional dos usuários.

Móvel desenhado pela Sum Architecture | Foto Ricado Perini

Além disso, focar em espaços e pedagogias que ofereçam uma reflexão sobre o indivíduo e, consequentemente, sobre o coletivo, é fundamental para um futuro mais humano. De forma que, embora a obrigatoriedade destas adaptações seja temporária, os conceitos ensinados e aprendidos nesse tempo fiquem na memória intelectual e afetiva de todos. “Esperamos que quando a socialização volte a estar presente em cada canto da escola, como deve ser, crianças e professores tenham vivenciado alguns valores que, aos poucos, estão sendo esquecidos no sistema de educação atual, como a autocrítica, a autoconfiança, a independência, a organização, o respeito ao outro indivíduo e ao espaço comum, tudo pela busca de um bem maior”.