Em fase artística consistente, o brasileiro faz sua primeira individual em Paris num claustro medieval e propõe diálogo da arte contemporânea com a história
A primeira exposição individual do artista brasileiro André Mendes em Paris *abre as portas ao público no dia 23 de junho. Num processo de apropriação do espaço, o artista analisa a arquitetura e cria situações de dialogo, tensão e troca entre suas obras e os 300 metros quadrados de área expositiva do Centro Cultural Cloître des Billettes (CCCB), claustro localizado na região do Marais, no coração de Paris.
Pinturas, esculturas e objetos resultarão em uma instalação no monumento histórico francês datado do século 14, direcionando o olhar do espectador para o contraste entre passado e presente. O Cloître des Billetes, a partir da intervenção de André Mendes, transforma-se numa ode à diversidade e ao processo criativo humano.
A mostra traz a aplicação de materiais inusitados, pesquisados em campo no Brasil e também na França. A exposição propõe aos visitantes uma experiência pessoal, à medida em que estimula a reflexão sobre as formas, a arquitetura e a maneira com que eles se relacionam.
A releitura de formas e funções gera experimentos e influencia positivamente o diálogo entre o passado e o presente. “Esta mostra sugere um profundo debate com a nossa própria história, desmistificando sensações visuais que se acumulam e sugerindo o retorno à essência de nosso ser, à compreensão da riqueza de nossa diversidade”, explica o curador Ricardo Fernandes.
“A primeira exposição do artista André Mendes em Paris, se dará de forma bem original e contará com a presença do artista que gradativamente estará construindo algumas obras “in loco” e dando aos visitantes a sensação de estarem dentro do atelier do artista. Os 300m2 do único claustro medieval da cidade de Paris, ocupados temporariamente pelo artista, obedecerão o diálogo proposto do público com a arte e o seu criador. Os materiais diversos, muitos trazidos do Brasil e outros captados em pesquisa de materiais que ocorrerão em Paris anterior ao início da exposição, serão as ferramentas do trabalho do artista e mostrarão a força da criação contemporânea em relação ao espaço medieval que a acolhe”, conclui Fernandes.
O artista
Nascido em Curitiba, André Mendes atua como artista plástico a mais de 18 anos. Em 2006, fez sua primeira exposição individual internacional na cidade do Porto – Portugal. O artista tem em seu currículo diversas exposições nacionais e internacionais, dentre elas, exposições em Cingapura e Banguecoque na Tailândia, além de ter participado de exposições coletivas na Malásia e na França.
Atualmente André Mendes vive e trabalha em Curitiba, onde sua pesquisa e produção são voltadas para a pintura e escultura em técnica mista. O artista se interessa pela materialidade da cor e seu comportamento como fluido. O acaso se manifesta em seu trabalho e transborda também para as outras superfícies do mundo ao redor – escultórico e arquitetônico.
O curador
Há mais de 25 anos Ricardo Fernandes vem construindo uma carreira internacional respeitada, atuando como expert em arte contemporânea e design, galerista, curador, cenógrafo e crítico de arte. Viveu na Alemanha, Suíça e Dinamarca e desde 2007 é radicado em Paris, onde dirige sua galeria de arte contemporânea, que funciona também como um centro gerador de informações e discussões sobre todos os temas relacionados com a arte contemporânea. Ricardo é arquiteto de interiores e jornalista de arte, membro da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), membro da Associação de Historiadores de Arte de Londres, (AAH), membro da Associação de Curadores de Nova York (AAMC), além de fazer parte da Associação dos Amigos do Palais de Tokyo, em Paris.
O espaço
“Poucos sabem que no número 24 da Rue des Archives fica não apenas o mais antigo claustro preservado de Paris, mas também um destino famoso para peregrinações cristãs no final da Idade Média”, conta o pesquisador de história da arte Marc Soleranski. Não existe placa explicativa para lembrar que a igreja e o claustro tiveram para peregrinos cristãos importância equivalente a Lourdes, Fátima ou Santiago de Compostela. Completamente destruída durante a Revolução Francesa, a propriedade foi reconstruída em 1758 em seu atual estilo barroco. O convento e o claustro foram vendidos como propriedade nacional em 1793. Em 1808, a cidade de Paris comprou a propriedade e a doou aos luteranos que a ocupam até hoje.
Datado de 1427, o claustro foi redesenhado e construído no estilo gótico francês –considerado bastante extravagante, explica Soleranski. Em vez de colunas de sustentação tradicionais, a arquitetura faz com que as estruturas se fundam com as abóbadas do teto. Isso dá aos visitantes uma visão ininterrupta desde a base dos pilares até o teto que lembram nervuras. “O efeito é que o edifício parece uma planta que parece brotar da terra”, sugere.
Em 2011, Ricardo Fernandes realizou sua primeira exposição no Cloître des Billetes, com obras de Leopoldo Martins. Agora, para conversar com este ambiente tão peculiar, convidou André Mendes para esta ousada intervenção. Com o curador, André Mendes participou do Solo Project Art Basel, em 2016.
* O artista André Mendes e o curador Ricardo Fernandes estão à disposição para eventuais entrevistas, questionamentos ou conversas. Os profissionais falarão sobre o projeto tanto antes quanto durante os dias de exposição.
Créditos:
Cloitre de Billettes – Lucia Adverse
Autoretrato – André Mendes
Fotografia: Mariana Alves