À moda da pandemia: o comportamento de A a Z de estilistas, influencers e editoriais

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Um alfabeto à disposição da indústria da moda. Páginas em branco a serem escritas num mundo transformado

Escreveu Sêneca no final de sua vida: “Queres saber qual é a coisa que com maior empenho deves evitar? A multidão! Ainda não estás em estado de freqüentá-la em segurança. Eu confesso-te sem rodeios a minha própria fraqueza: nunca regresso com o mesmo carácter com que saí de casa; algo do que já pusera em ordem é alterado, algo do que já conseguira eliminar, regressa! O mesmo que sucede aos doentes que uma longa debilidade não deixa ir a parte alguma sem recaída, nos acontece, a nós, cujo espírito se está refazendo de uma prolongada enfermidade.”

Com a letra “A”, Armani, estilista italiano, inicia um novo e verdadeiro ciclo na indústria da moda pós-pandemia. Em carta à Women’s Wear Daily (WWD), elogia o movimento do slow fashion e propõe a diminuição do ritmo como a única saída para a indústria da moda – percebermos o que realmente é importante. Para ele, não cabe ao segmento do luxo seguir os caminhos do fast fashion com o intuito de vender sempre mais. A crise do novo coronavírus deve definir uma nova paisagem.

Nas últimas “lives”, que tanto nos permitem o contato mais próximo durante essa pandemia, Cietta (Enrico Cietta) deu o tom do futuro da moda. Como economista, atuando no mercado da moda e vivendo as realidades italiana e brasileira, alertou para a qualidade da criação na velocidade da moda, para a sustentabilidade, a conscientização do consumo e o investimento na tecnologia sustentável.

Pugliesi, influencer brasileira (Gabriela Pugliesi), é um exemplo, não necessariamente na indústria da moda, que parece tropeçar. Durante a quarentena, promoveu festa em sua casa numa atitude contrária à preservação da saúde pública, ao comportamento ético (contrário ao bem-estar que tanto prega) e à solidariedade. Resultado? Perdeu seguidores e contratos com marcas. Nunca foi tão atual a tese a “A publicidade ilícita e a responsabilidade civil das celebridades que dela participam”, guardada em minha biblioteca, escrita pelo saudoso amigo Scartezzini.

Com o “R” de renascimento, e sob a expressão “Revenge spending” (o “gastar por vingança”), a China já vivencia os primeiros movimentos do mercado da moda pós-pandemia. Com um aumento das vendas no mercado de luxo em lojas de rua, a China questiona: trata-se de um fenômeno do mundo pós coronavírus ou há outras razões para isso? Com as restrições de viagens para outros países, especialmente para Paris e Milão, as marcas de luxo chinesas tiveram um aumento de 15% das vendas em março, comparado com o ano anterior. No entanto, nos últimos anos houve também uma diminuição das taxas para compras no próprio país. O que podem já concluir é que os cuidados com a saúde, como a telemedicina, devem aumentar, mas as vendas tradicionais de varejo enfrentarão momentos de turbulência. O mercado de luxo, segundo pesquisas recentes, deve aparecer no meio do caminho, junto com a venda de bebidas e de coisas para casa.

Caminhando para o fim do alfabeto, e não menos importante, a Vogue Itália, com a capa em branco da edição de abril de 2020, mostrou seu DNA de não ser só entretenimento, mas de olhar para o que acontece no mundo. Não é esse o reflexo da moda? Com o branco do respeito, do renascimento e da cor dos uniformes das profissionais de saúde, trouxe o confinamento como exemplo do trabalho de cada um em casa, mas juntos num mesmo propósito.

Editoriais da Vogue Espanha e Portugal seguiram a mesma linha: isolamento da sociedade e a nova realidade, conectada com o comportamento que nasce entre todos. No Brasil (…), precisamos refletir e agir!

Assim, Zegna, do grupo italiano de moda masculina de luxo, com doação pessoal de 3 milhões de euros à Agência de Proteção Civil da Itália, com o objetivo de ajudar médicos, enfermeiros e pesquisadores, acredita que “nossas ações de hoje determinam nosso futuro e que a pandemia com a qual estamos sendo confrontados é um apelo para que todos ajam.” (Gildo Zegna, CEO da Ermenegildo Zegna).

O ponto final é: voltaria Sêneca a dizer “a adversidade é ocasião da virtude”?

Artigo de Renata Domingues Balbino Munhoz Soares

Advogada, Professora e Coordenadora acadêmica da Pós-Graduação em Direito da Moda da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Doutora em Direito Político e Econômico; Especialista em Fashion Law pelo Milano Fashion Institute e Coordenadora do livro “Fashion Law – Direito da Moda”.

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