Boas práticas para o home office se consolidam à medida que jovens que iniciaram suas carreiras na pandemia e possuem experiência exclusivamente remota avançam para cargos mais altos
De 2020 para cá, junto com o crescimento do home office, surgiu uma nova categoria de profissionais: os que nunca tiveram a experiência de trabalhar presencialmente. Jovens que ingressaram no mercado de trabalho no começo da pandemia, hoje já assumem postos de liderança e acumulam experiência profissional de forma totalmente remota. É o caso de Rodrigo Fayer, desenvolvedor de softwares no Reportei, empresa de relatórios de marketing e vendas. Em 2021, ele foi aprovado no processo seletivo para estágio e, atualmente, aos 23 anos, atua como líder da sua área. Ele integra o grupo de pessoas que não pensa em adotar o modelo presencial de trabalho.
“Eu me adaptei bem ao home office e, nas poucas vezes em que fui trabalhar em escritório, senti que não rendi nada. A conversa com o time, muitos pedidos de ajuda, tudo isso influencia na concentração. No Reportei, o trabalho é remoto desde a fundação da empresa, então não me preocupo com possíveis mudanças. Mas, caso acontecesse de eu ter que trabalhar sempre presencialmente, é muito provável que eu procurasse outra vaga remota”, conta.
Para conquistar essa eficiência no trabalho a distância, Rodrigo precisou fazer adaptações em sua casa, como comprar novos monitores, teclados e reservar um quarto da casa apenas para essa atividade. “Para mim, o mais importante foi dividir o ambiente. Ter um lugar para o trabalho e outro para o descanso. Sei que nem todo mundo consegue fazer isso, mas, se der, considero fundamental”, aconselha. “Também acho importante ‘não levar o trabalho para casa’, no sentido de que não dá pra pensar nesses afazeres 24 horas por dia. Acabou a jornada, é hora de aliviar a cabeça, pensar em outra coisa”.
Não foi só o conceito de ‘não levar trabalho para casa’ que se adaptou ao home office. Segundo ele, os desenvolvedores do time perceberam que valia a pena criar um canal de comunicação por voz para tirar dúvidas rápidas. Agora, aproveitam o espaço tanto para falar sobre trabalho quanto para conversar amenidades ao longo do dia. “Virou o momento do cafezinho”.
Encontrar maneiras de tornar o trabalho remoto o mais eficiente e agradável possível tem sido uma missão que engloba todas as áreas de uma empresa, dos analistas aos executivos. Para Rodrigo, uma das mudanças mais importantes foi conscientizar o time de que dúvidas e desafios sempre precisam ser bem comunicados, já que não é possível ver como está o dia de trabalho do outro.
A comunicação é um ponto destacado também por especialistas de RH. De acordo com Maria Gabriella Souza, Bussiness Partner e sócia do serviço de People as a Service da Triven, empresa de backoffice para startups, gerir um time remoto exige comunicação clara e frequente, com canais e rituais de alinhamento e engajamento.
“Outra recomendação é fazer a gestão por resultados, não por tempo online, estabelecendo metas e indicadores de desempenho. Também é fundamental incentivar os funcionários a trabalharem com confiança e autonomia, criando um ambiente onde as pessoas são livres para usufruir da flexibilidade”, afirma. “Trabalhar a cultura, estimular a integração e apoiar o desenvolvimento do time são outros pontos importantes”.
Os últimos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) mostraram que o percentual de brasileiros que trabalham em casa é de 8,3% do total. A modalidade é popular principalmente entre os trabalhadores da área de tecnologia, como é o caso de Rodrigo. De acordo com a 4ª edição do Mapeamento de Demanda e Perfil de Talentos para o Setor de Tecnologia de SC, realizado pela Associação Catarinense de Tecnologia e pelo Sebrae Startups, 21,7% das vagas preenchidas no setor nos próximos anos devem ser do tipo 100% remoto.
“Estamos certos de que vale a pena investir no modelo de trabalho remoto. Porém, a empresa precisa se dedicar a implementar metodologias, ferramentas, tecnologias e treinamentos que ajudem no dia a dia. Muitos profissionais buscam esse modelo para ter mais tempo de qualidade com a família, cuidar da saúde física e mental, ter flexibilidade para viagens, entre outros pontos que trazem felicidade para a pessoa – e pessoas felizes geram mais resultados. Porém sem uma organização eficiente, o esforço é em vão”, complementa a especialista da Triven.
Foto de Kristin Wilson na Unsplash


