Miguel, 1 ano e 5 meses, é um dos casos que mostram como a tecnologia brasileira pode transformar o cuidado de feridas pediátricas

Feridas em crianças não cicatrizam só na pele. Elas marcam rotina, sono dos pais, medo do toque e, muitas vezes, a memória que seguirá para a vida adulta. No pós-operatório pediátrico, feridas extensas podem se tornar longas internações, muitas vezes mais dolorosas do que o procedimento inicial.

Cada manipulação é um universo: choro, contenção, ansiedade. E a equipe sabe: quanto menos trocas de curativos, melhor o prognóstico e a experiência da criança. Entre as tecnologias que vêm ganhando atenção nos centros pediátricos, uma membrana regeneradora de celulose bacteriana, Membracel, passou a ser utilizada como aliada no cuidado de feridas complexas. Não como último recurso, mas como estratégia para acelerar a cicatrização, reduzir dor e minimizar a necessidade de intervenções repetidas.

Miguel tinha um ano e cinco meses quando passou por uma cirurgia intestinal que evoluiu com complicações no pós-operatório. O abdômen abriu uma ferida grande o suficiente para que a possibilidade de enxerto de pele fosse colocada à mesa. Os pais, Beatriz e Guilherme Borges contam que a evolução após o início do uso da membrana foi rápida e visível. “A cada troca diminuía um centímetro, dois… foi impressionante”. Hoje, a lesão está cicatrizada, sem a necessidade de enxerto.

A enfermeira Lisiane Messias, do Hospital Pediátrico de Porto Alegre, acompanhou um segundo caso: uma criança com perda importante de derme e epiderme no tornozelo. Três dias após aplicação da membrana, na primeira troca, o leito já apresentava reorganização tecidual consistente. Desde então, o uso tornou-se rotina sempre que viável no protocolo.

Na pediatria, cuidar de uma ferida é também cuidar da experiência que ela deixará. A Membracel funciona como substituto temporário da pele, explica Andrezza Barreto, enfermeira especialista em feridas da Vuelo Pharma.

“Ela protege a lesão, favorece a regeneração tecidual e proporciona alívio rápido da dor”. A estrutura fina permite a drenagem do exsudato, mantém o microambiente úmido, condição ideal para cicatrização e reduz risco de infecção. Por poder permanecer de 5 a 12 dias sem trocas, diminui a manipulação e evita danos ao tecido novo. É biocompatível e atóxica, o que significa que não causa reações alérgicas.

A tecnologia, criada por João Carlos Moreschi durante a busca por alternativas para tratar úlceras crônicas de sua mãe, evoluiu do laboratório para o hospital com um objetivo simples e robusto: cicatrizar mais rápido, com menos sofrimento. Hoje, integra o arsenal terapêutico de feridas complexas, incluindo queimaduras de segundo grau, úlceras vasculares e lesões pós-operatórias.

foto: Helen de Moraes A. de Souza

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