Nascido em uma família de diplomatas, filho de mãe brasileira e pai belga, Emmanuel Lejeune viveu em diversos países durante a infância e adolescência. Dessa trajetória multicultural surgiu uma sensibilidade singular, que hoje se expressa em uma visão estética própria e profundamente autoral da moda. Após manter estúdios em Tel Aviv e Hong Kong, ele lança sua marca no Brasil com Devaneio — Coleção Inverno 2026 — uma síntese refinada dos universos, referências e memórias que o acompanharam ao longo de suas viagens pelo mundo.

“Meu primeiro eixo de inspiração foi o filme My Fair Lady. O vestido branco de renda bordado em motivo floral e o chapéu com laços e plumas criados por Cecil Beaton para Audrey Hepburn serviram de base para toda a linha de festa”, conta Lejeune. Em Devaneio, o babado — presente em vários trajes concebidos por Beaton — reaparece em vestidos dramáticos e teatrais, assim como o corte em viés (‘bias’) desenvolvido por Madeleine Vionnet nos anos 1920, outra referência fundamental na trajetória do designer.
A linha dramática de camisaria e as proporções de algumas peças de alfaiataria foram inspiradas na extravagância da socialite e mecenas Marchesa Luisa Casati. A tricoline de algodão empapelada permitiu criar camisas de formas esculturais e teatralidade evidente, em diálogo direto com o estilo ousado da Marchesa.
A referência ao New Look de Christian Dior, de 1947, surge nas ancas acentuadas de certos corsets e peças de alfaiataria. A paleta é refinada — preto, branco, dourado, vermelho e marrom — e os tecidos nobres, como veludo de seda, lã merino com seda e shantung, reforçam a sofisticação das modelagens criadas por Emmanuel Lejeune.
As peças do designer atraem mulheres que valorizam a precisão couture e o corte impecável, mas que também buscam o toque exato de sensualidade que traz modernidade ao vestir. “Eu imagino minha cliente usando minhas criações de uma forma sempre muito chique — seja em um look mais clássico, como uma camisa branca da coleção combinada a um carré Hermès e uma bolsa Chanel, seja em um chique despojado, com essa mesma camisa usada com uma calça de corte esportivo em tecido tecnológico”, explica.

Uma jornada de refinamento estético
Desde pequeno, Emmanuel Lejeune foi incentivado pelos pais, amantes das artes, a frequentar museus como o de Belas Artes de Bruxelas. Na adolescência, ele começou a viajar com sua mãe e o padrasto, que trabalhavam para o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, tendo vivido em países como Costa do Marfim, Espanha, Israel, Hong Kong e China. “Essas diferentes experiências me permitiram uma grande riqueza sob o ponto de vista cultural”, lembra.
Em Paris, na ESMOD, Lejeune iniciou seus estudos de moda e descobriu seu talento para modelagem, costura e desenho, mas foi Madri que deixou a marca mais profunda em sua visão estética. “Fiquei fascinado com o traje típico das bailarinas de flamenco, e o babado se tornou um elemento crucial que enriquece minhas criações. Também descobri a extravagância no vestir através da movida madrileña, a vida noturna da cidade, marcada por uma exuberância contagiante”, conta, revelando de onde vem o equilíbrio entre classicismo e extravagância encontrado em suas coleções.
Após ter deixado o Brasil aos 9 anos, Lejeune e sua mãe decidiram retornar para se reconectarem à cultura de origem. “Resolvi lançar a minha marca no Brasil porque queria trazer uma concepção europeia da moda. Criar minha primeira coleção aqui me permitiu reencontrar minha metade brasileira, unindo a sensualidade do Brasil ao ‘chic’ europeu”, resume. “Através desse lançamento, pretendo que a marca Emmanuel Lejeune seja percebida como uma marca de luxo, com qualidade impecável, que oferece um lifestyle de elegância à mulher que a vestir”, resume.
fotos: Renam Christofoletti


