Quando é necessária a cirurgia para retirada do carcinoma em partes nobres do corpo, em especial no rosto e na orelha, a Cirurgia de Mohs é a mais indicada
A atriz Fernanda Rodrigues informou ontem em suas redes sociais a volta de um carcinoma basocelular, câncer que se origina nas células epiteliais da pele. Apesar de raramente causar metástase, o tumor pode causar destruição local com o passar do tempo.
Dentre as opções de tratamentos para o câncer de pele, uma delas é o cirúrgica. Quando o carcinoma surge em áreas nobres do corpo, como rosto, mãos, couro cabeludo, ou orelha, é fundamental que o tratamento seja eficaz e minimize as marcas deixadas pela cirurgia. De acordo com a NCCN (National Comprehensive Cancer Network), principal diretriz de oncologia da atualidade, recomenda-se a Cirurgia micrográfica de Mohs para casos como o da atriz, devido à taxa mais alta de cura e preservação de pele sadia, minimizando a cicatriz. A recomendação também faz parte da Academia Americana de Dermatologia. Em 1985 o tratamento já era indicado nos Estados Unidos, inclusive o então presidente do país, Ronald Reagan, passou por uma cirurgia micrográfica de Mohs para remover um carcinoma basocelular no nariz.
“Carcinomas basocelulares na face “beneficiam-se” muito da cirurgia de Mohs pois é possível minimizar a cicatriz e, principalmente, atingir altas taxas de cura, evitando procedimentos mais agressivos no futuro. Curar o paciente é o principal, mas restaurar a anatomia e a estética é essencial, pois o impacto psicológico de uma cicatriz na face pode ser mais significativo do que se imagina.”, relata o médico dermatologista de Curitiba, Felipe Cerci, que se dedica à técnica de Mohs.
Como funciona a Cirurgia de Mohs
Na Cirurgia Micrográfica de Mohs, remove-se uma margem mínima (1 a 2 mm) ao redor do tumor, a qual é examinada por completo (100% das margens) no microscópio após 30-45 minutos. Caso haja tumor residual nas margens, remove-se um novo fragmento na área comprometida. Essa remoção precisa é possível devido ao mapeamento (origem do nome “micrográfica”) realizado no início da cirurgia. Após a certeza de que as margens estão livres de tumor, a ferida operatória é restaurada. De acordo com diversas pesquisas científicas, a taxa de cura da técnica é >99% para carcinomas basocelulares primários e de 96% para casos recidivados.
Na técnica cirúrgica convencional, utiliza-se o conceito de margem de segurança, que consiste em remover pelo menos 4 mm de pele aparentemente normal ao redor do tumor. Essa remoção é necessária pois, na cirurgia convencional, o exame para avaliar se o tumor foi removido é feito dias depois e apenas em amostras das margens (cerca de 1 a 2%). Ou seja, acaba “sacrificando-se” pele sadia. O exame de amostras das margens ainda gera o risco de que raízes do tumor não sejam vistas no microscópio, aumentando o risco de recidiva do tumor.
Essa diferença de margem pode parecer não ser significativa. O problema é que a margem é ao redor de todo o tumor, o que aumenta o diâmetro da ferida de forma significativa. Em partes visíveis do corpo, em especial o rosto, feridas maiores levam a reconstruções maiores e risco de cicatrizes inestéticas. Por isso, a Cirurgia Micrográfica de Mohs é a indicada nesses locais mais aparentes e delicados, para preservar ao máximo a pele saudável, reduzir o diâmetro da ferida e, consequentemente, a cicatriz. Deve-se ressaltar, entretanto, que a maior vantagem da cirurgia de Mohs é a cura mais alta.
Apesar de o tratamento cirúrgico ter as taxas de cura mais elevadas e ser o mais recomendado pelas diretrizes, alguns casos de câncer de pele tipo carcinoma basocelular podem ser tratados de outras formas, como o uso de pomadas específicas, curetagem, cauterização ou radioterapia. A escolha do tratamento dependerá da avaliação do dermatologista.
Quando a técnica de Mohs é indicada?
A cirurgia Micrográfica de Mohs é indicada principalmente para o tratamento de carcinomas basocelulares e espinocelulares com pelo menos um dos critérios a seguir carcinomas localizados na face, principalmente ao redor dos olhos, boca, nariz e orelhas; lesões mal delimitadas clinicamente; tumores que não foram removidos por completo em cirurgias anteriores; carcinomas histologicamente mais agressivos (os basocelulares: micronodular, infiltrativo ou esclerodermiforme); e lesões recorrentes, ou seja, que voltaram após o primeiro tratamento.
Para realizar a cirurgia de Mohs, o dermatologista passa por um extenso treinamento. Há cerca de 150 médicos certificados pela Sociedade Brasileira de Dermatologia no Brasil. No Paraná, há 13 cirurgiões especializados, sendo um deles o Dr. Felipe Cerci. O médico acompanhou mais de 1.500 casos durante mais de dois anos de aperfeiçoamentos nos Estados Unidos. Desde que retornou em 2014, realizou mais de 2.300 cirurgias de Mohs
foto: Divulgação Rede Globo


