Apesar de proibido no Brasil desde 2009, equipamento continua disponível, amparado por decisões liminares ou de forma clandestina

Aquele “bronzeado rápido” pode custar caro à pele. A radiação ultravioleta (UV) das câmaras é classificada como cancerígena pela Organização Mundial de Saúde (MS). O risco de câncer de pele do tipo melanoma aumenta 75% nas pessoas que fazem uso regular do bronzeamento artificial. No Brasil, a utilização desses equipamentos com finalidade estética é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, mas ainda há clínicas que seguem oferecendo o procedimento, amparadas por liminares da justiça.

Além do risco aumentado de câncer, o bronzeamento artificial acelera o envelhecimento da pele, causa manchas e pode gerar lesões oculares, observa o oncologista Fernando Medina, do Centro de Oncologia Campinas.

“Para um bronzeamento seguro, prefira sempre autobronzeadores e, ao sol, use fatores de proteção 30+, de amplo espectro. Reaplique a cada duas horas e evite o sol no período entre 10h e 16h. Notou pinta nova, que coça, sangra ou mudou cor ou formato? Procure avaliação. Diagnóstico precoce tem altas chances de cura”, ensina o médico.

Em abril deste ano, para conter a judicialização da oferta de bronzeamento em câmaras, a Anvisa também proibiu a fabricação no Brasil de lâmpadas fluorescentes de alta potência. Em 2009, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC/OMS) incluiu as câmaras de bronzeamento no Grupo 1 de carcinogênicas, o mesmo dos cigarros e do amianto.

A Anvisa confirma que algumas ações pontuais de Assembleias Legislativas estaduais e municipais têm aprovado, de forma irregular, o uso de câmaras de bronzeamento artificial. Esse tipo de lei municipal/estadual desrespeita a norma federal da Agência, a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 56/2009.

Foi o caso, por exemplo, de João Pessoa (PB). A prefeitura local sancionou no final do ano passado a lei que permitia o funcionamento de estabelecimentos de bronzeamento artificial na cidade. Na sequência, o Ministério Público abriu investigação que confirmou a inconstitucionalidade da lei.

No início deste mês de dezembro, uma clínica de estética no Rio de Janeiro foi interditada após clientes denunciarem queimaduras provocadas pela câmara de bronzeamento artificial que funcionava clandestinamente no estabelecimento.

Estimativas

O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima 220 mil novos casos de câncer de pele não melanoma por ano no triênio 2023-2025 – 33% do total de diagnósticos de câncer no Brasil – e 13.620 novos casos anuais de melanoma, o tipo mais agressivo da doença. São dados que justificam a especial atenção às mensagens da campanha Dezembro Laranja.

O câncer de pele é o tumor mais prevalente em todo mundo e o que tem melhores chances de cura quando diagnosticado em fase inicial. Também é facilmente evitável, já que até 95% dos casos estão diretamente relacionados à exposição solar cumulativa e a queimaduras solares na infância e adolescência.

A taxa de incidência de melanoma nos brasileiros mais que dobrou nos últimos 20 anos. A cada 100 casos de câncer de pele, apenas cinco são melanomas, mas a doença é responsável por quatro a cada dez mortes por tumores de pele.

“A prevenção é altamente eficaz e deve ser enfatizada em campanhas educativas, especialmente para populações de risco. O acompanhamento dermatológico regular é crucial para detecção precoce, reduzindo a morbidade e a necessidade de tratamentos agressivos”, detalha o oncologista Fernando Medina.

Tipos de câncer

O câncer de pele não melanoma é o tipo mais comum de câncer de pele, caracterizado por crescimento anormal de células cutâneas, geralmente associado à exposição solar crônica. No Brasil, representa cerca de 30% de todos os cânceres diagnosticados.

“O Carcinoma Basocelular é o tipo mais comum e representa de 70% a 80% dos casos. Tem crescimento lento e raramente metastatiza”, detalha Medina. Metástase é quando o câncer se espalha para outros órgãos do corpo.

De 20% a 30% dos casos de câncer de pele não melanoma são Carcinomas Espinocelulares, que se originam nas células escamosas da epiderme, especifica Medina. “Esse é um tipo mais agressivo do que o Carcinoma Basocelular, com maior potencial de metástase, de 2% a 5%”, especifica.

O melanoma é agressivo e com alto risco de metástase. Conforme o Inca, a doença responde por até 4% das neoplasias malignas de pele e tem origem nas células produtoras de melanina (substância que determina a cor da pele). O prognóstico positivo do melanoma está diretamente ligado à detecção precoce.

Fique atento

As lesões malignas de pele normalmente têm mais de 6mm de diâmetro. É motivo de alerta sinais como pequenas feridas que não cicatrizam; crescimento da mancha; ocorrência de vermelhidão, inchaço, coceira ou sensibilidade; e mudança do aspecto ou da cor.

“A prevenção primária, com utilização de protetor solar desde e o não uso de bronzeamento artificial em câmaras, é a medida mais custo-efetiva que existe”, orienta Medina. “O Carcinoma Basocelular é tão comum hoje que virou ‘doença do dia a dia’ do dermatologista, mas o atraso no diagnóstico dos Carcinomas Espinocelulares de melanomas ainda mata desnecessariamente”, acrescenta.

O oncologista recomenda a realização de exame dermatológico anual para detecção de lesões de pele suspeitas. E lembra que a prevenção secundária envolve também o autoexame mensal da pele. No caso do melanoma, é possível se orientar pela regra ABCDE:

A = Assimetria

B = Bordas irregulares

C = Cor variada

D = Diâmetro > 6 mm

E = Evolução (mudança em semanas/meses)

“O câncer de pele é o único câncer cuja incidência e mortalidade ainda podemos reduzir drasticamente com medidas simples: Protetor solar, evitar sol forte, exame dermatológico com dermoscopia (de preferência digital em pacientes de risco)”, finaliza Medina.

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