Além de afetar a memória e a autonomia, a doença sobrecarrega familiares, que também precisam de atenção para preservar sua saúde física e emocional.
Mês de conscientização da doença de Alzheimer e outros tipos de demência, o Setembro Lilás chama a atenção para essas doenças que acometem milhares de pessoas no mundo. Em 2024, o Ministério da Saúde divulgou o Relatório Nacional sobre a Demência: Epidemiologia, (re)conhecimento e projeções futuras e o estudo mostrou que cerca de 8,5% da população com 60 anos ou mais convivem com algum tipo de demência, o que representa cerca de 1,8 milhão de casos. Até 2050, a projeção é que 5,7 milhões de pessoas sejam diagnosticadas no Brasil.
De acordo com a geriatra, Dra. Maria Aparecida Bicalho, membro da Comissão de Inovação em Doença de Alzheimer e Demências, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), o Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que evolui durante vários anos de maneira assintomática, comprometendo as funções cognitivas, principalmente a memória, além de promover alterações comportamentais e da personalidade. Ela explica que além da idade e dos fatores de risco genéticos, em especial o alelo e4 da apolipoproteína E, principal gen envolvido no desenvolvimento da doença, são definidos 14 fatores de risco modificáveis para a doença, como baixo nível de escolaridade, hipertensão arterial sistêmica, diabetes, colesterol LDL elevado, redução da acuidade auditiva, depressão, traumatismo craniano, inatividade física, tabagismo, obesidade e uso abusivo de álcool na meia idade, isolamento social, poluição do ar e perda visual no idoso. “Juntos, estes fatores de risco são responsáveis por 45% do risco para demência. Outros fatores, como alteração de sono, têm sido estudados, mas ainda não estão definidos.”
Cuidados
Além do tratamento medicamentoso disponível, Dra. Maria Aparecida afirma que pelo fato desses pacientes apresentarem declínio da capacidade de realizar atividades do dia a dia de maneira progressiva, é necessário auxiliá-los na execução das tarefas à medida que elas são comprometidas, a fim de protegê-los e evitar a piora da fragilidade. “Inicialmente, é importante supervisionar o uso de medicamentos, que podem ser uma importante causa de efeitos adversos e levar, também, ao descontrole das doenças de base. O fato é que à medida que a doença progride, esta atividade deve ser assumida por um cuidador”, ratifica a geriatra, ao comentar que os familiares também devem assumir o controle financeiro para proteger o patrimônio da pessoa.
A direção veicular é outra atividade que deve ser evitada, segundo a Dra. Maria Aparecida. Já as atividades profissionais também ficam comprometidas e o ideal é que o paciente passe a ter outro tipo de atividade, especialmente no caso de profissões que exijam um alto desempenho e que gerem riscos. “Fazer compras é uma atividade que pode ser mantida com a ajuda de familiares ou cuidadores. Já as tarefas domésticas, podem ser realizadas com o auxílio necessário, desde que não incorra em riscos. Com a evolução da doença, o cuidador precisará assumir as atividades que o paciente apresenta dificuldades para executar e o paciente não deve ser deixado em casa sozinho, assim como deve-se evitar que ele saia sozinho para locais distantes, para que não corra o risco de se perder.”
De acordo com a especialista, em fases mais avançadas da doença de Alzheimer, o paciente se torna incapaz de realizar as chamadas atividades básicas do dia a dia, e passa a necessitar de ajuda, até se tornar completamente dependente para tarefas simples, como tomar banho, usar o vaso sanitário, controlar a urina e as fezes, e sair da cama e se sentar em uma cadeira. “O paciente, inclusive, não consegue mais comer sozinho. Quando a doença chega nesse estágio as tarefas devem ser assumidas por um cuidador ou familiar. Já na fase final da doença, a pessoa fica acamada e dependente para todas as atividades.”
Alguns pacientes apresentam alterações comportamentais, como agressividade, alucinações e começam a andar sem destino. “Alterações do sono e do apetite, desinibição e gritos são outras características, e os familiares e os cuidadores devem saber lidar com essas situações para que o quadro não se agrave e incorra em riscos para o paciente e para terceiros. É importante ressaltar que nessas situações não se deve confrontar o paciente, sempre agindo com calma. Familiares e cuidadores precisam ter em mente que não se trata de ‘pirraça’, mas sim de um efeito da doença”, relata.
Atente-se!
Lidar com um paciente com doença de Alzheimer não é uma tarefa fácil. Tanto, que muitos familiares e cuidadores também podem adoecer com transtornos de ansiedade e depressão, fadiga extrema, alterações do sono, entre outros. De acordo com a Dra. Maria Aparecida, este processo de adoecimento deve ser reconhecido e tratado. “Pessoas que cuidam de pacientes com demência devem se revezar, realizar atividades físicas, ter momentos de lazer e cuidar da higiene, a fim de garantir um sono reparador. Se por ventura desenvolverem este quadro de sobrecarga, devem se tratar”, diz.
Ela explica que no início do quadro, o paciente costuma reconhecer que tem um prejuízo da memória, mas com o progredir da doença, ele acredita que a memória está perfeita. Além disso, ele pode ter dificuldade para encontrar objetos guardados por ele e passa a acreditar que está sendo roubado. “Outra queixa frequente se refere à ideia de infidelidade do cônjuge e muitos perdem o ‘filtro’ do que falam.”
De acordo com a geriatra, é importante ressaltar que estas e outras alterações no comportamento da pessoa precisam ser reconhecidas e não são “normais da idade”. Ela explica que o paciente precisa ser avaliado para que seja realizado o diagnóstico correto e seja estabelecido um plano terapêutico. “O médico geriatra é o profissional treinado para avaliar e reconhecer as dificuldades cognitivas e da funcionalidade. além de definir a melhor abordagem terapêutica para o paciente, baseado na fase da doença, comorbidades, interações medicamentosas e grau de fragilidade da pessoa idosa”, afirma.
Sobre a SBGG
A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), fundada em 16 de maio de 1961, é uma associação civil sem fins lucrativos que tem como principal objetivo congregar médicos e outros profissionais de nível superior que se interessem pela Geriatria e Gerontologia, estimulando e apoiando o desenvolvimento e a divulgação do conhecimento científico na área do envelhecimento. Além disso, visa promover o aprimoramento e a capacitação permanente dos seus associados, contribuindo para um envelhecimento humano, digno e saudável.
Foto de Robina Weermeijer na Unsplash


