Produtos com whey e versões “fortificadas” se multiplicam nas prateleiras, mas o excesso pode trazer riscos à saúde, alerta nutricionista do Sírio-Libanês
A onda dos alimentos funcionais e com proteína extra ganhou as prateleiras e o cotidiano dos brasileiros. Pães, iogurtes, biscoitos, cafés e até chocolates agora prometem mais saciedade. Impulsionado pelo interesse em nutrição funcional e no ganho de massa magra, o consumo de produtos proteicos, em especial o whey protein, antes restrito às academias, se espalhou pelas rotinas alimentares. Mas, à medida que se populariza, especialistas acendem um sinal de alerta.
“O whey protein pode ser útil quando há necessidade de suplementação, mas ele não substitui o papel dos alimentos nem deve ser consumido sem orientação”, explica Jéssica Madeira, nutricionista do Hospital Sírio-Libanês.
De acordo com dados da Global Growth Insights1, o mercado global de suplementos deve superar os US$3 milhões em 2026. Esse crescimento é impulsionado pela tendência de maior consumo de proteínas: mais de 63% dos consumidores preocupados com a saúde já incorporam suplementos à rotina alimentar diária. Formatos com foco em conveniência, como bebidas prontas para consumo, dominam o segmento proteico, com mais de 58% das vendas totais, enquanto os suplementos proteicos à base de plantas registaram um aumento de 54% na preferência global, destacando uma forte mudança em direção a opções nutricionais mais saudáveis e sustentáveis.
A nutróloga do Hospital Sírio-Libanes, Andrea Sampaio, explica que a proteína é, de fato, essencial ao organismo para manutenção e reparo dos tecidos corporais, síntese de enzimas e hormônios, fortalecimento imunológico, saúde óssea e preservação da massa magra. Porém, o consumo excessivo vem se tornando um problema.
“Muitas pessoas acreditam que quanto mais proteína, melhor, e isso não é verdade. Em muitos casos, o aporte proteico já é adequado pela dieta, e o acréscimo via produtos industrializados não traz ganho metabólico adicional”, diz a médica. “Além disso, produtos com o rótulo ‘alta proteína’ podem enganar, já que, às vezes, têm mais açúcar, adoçantes ou são ultraprocessados, o que reduz o valor nutricional global”, pondera.
A Autoridade Europeia para Segurança dos Alimentos (do inglês, EFSA) recomenda cerca de 0,8 a 1 g de proteína por quilo de peso corporal por dia para adultos saudáveis2, quantidade suficiente para manter o equilíbrio. Já para atletas ou pessoas em treinos de alta performance, a Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva3 orienta um consumo entre 1,4 e 2,0 g/kg/dia, enquanto idosos podem se beneficiar de uma ingestão um pouco maior (até 1,2 g/kg/dia) para preservar massa muscular e funcionalidade.
“O corpo tem um limite de aproveitamento, o que excede é convertido em energia ou gordura, e o restante precisa ser eliminado pelos rins, o que pode gerar sobrecarga se o consumo for exagerado”, reforça Jéssica.
Segundo as especialistas, consumir proteína muito acima da necessidade não estimula, mas hipertrofia. “Existe um ponto de saturação da síntese proteica. A partir daí, o excesso é oxidado ou convertido em ureia e excretado”, explica Andrea. “Além disso, dietas hiperproteicas reduzem carboidratos, o que pode aumentar a fadiga, reduzir performance e dificultar a recuperação muscular”, complementa.
Entre os sintomas mais comuns do consumo excessivo estão fadiga, halitose, distensão abdominal, constipação e aumento da ureia no sangue. “O corpo costuma dar sinais quando há desequilíbrio, mas muitas pessoas associam esses sintomas à rotina intensa de treinos e acabam ignorando”, observa Jéssica.
As especialistas explicam, ainda, que a suplementação tem seu lugar, mas é mais restrito do que o modismo sugere. “Ela é indicada para quem realmente não consegue atingir a meta diária de proteína com a alimentação”, explica Andrea. “Isso inclui atletas de alta performance, idosos com risco de sarcopenia (perda de massa muscular), pacientes em recuperação de cirurgias ou com restrições alimentares”, diz a especialista.
Por outro lado, quem já tem uma dieta equilibrada com fontes naturais, como carnes magras, ovos, leite, iogurtes e leguminosas, normalmente não precisa de suplementos. “O suplemento é um complemento, não um substituto das refeições. Ele não melhora a performance por si só”, reforça Andrea.
Erros mais frequentes no uso de proteína
- Não calcular a necessidade real e consumir doses exageradas;
- Usar o suplemento como substituto de refeições, reduzindo a ingestão de fibras e micronutrientes;
- Ignorar a forma de distribuição (consumo em dose única, uma vez ao dia) e a qualidade proteica (baixo teor de leucina);
- Desconsiderar condições clínicas, como doença renal crônica, hepatopatias, gestação, ou baixo nível de hidratação;
- Optar por marcas de baixa qualidade e não certificadas, com risco de contaminantes ou substâncias proibidas;
- Não ajustar o restante da alimentação para equilibrar o consumo proteico total;
- Acreditar que o suplemento, por si só, é capaz de gerar resultados.
Para Jéssica, a alimentação equilibrada continua sendo a principal fonte de nutrientes e o caminho mais seguro para atingir as metas proteicas. Carnes magras, ovos, leguminosas e laticínios são fontes naturais de proteína de alta qualidade e devem formar a base da dieta. “A suplementação proteica é segura e eficaz quando utilizada com propósito, dose e contexto adequados. Mas é importante lembrar que o alimento deve ser sempre a principal fonte de nutrientes, afinal, não somos astronautas para viver à base de fórmulas”, diz a nutricionista.
Andrea complementa: “A verdadeira base para força, energia e composição corporal saudável está em hábitos sustentáveis que incluem alimentação equilibrada, treino, sono e hidratação adequados, e não em promessas rápidas ou produtos industrializados”, finaliza a nutróloga.
Fontes naturais de proteína que não podem faltar no prato
Carnes magras
Frango, peixe, carne bovina sem gordura e cortes suínos magros oferecem proteína de alta qualidade e aminoácidos essenciais. São ideais para quem busca ganho de massa magra e manutenção muscular.
Ovos
Um dos alimentos mais completos da natureza. A clara é praticamente pura proteína, enquanto a gema concentra nutrientes como ferro, zinco e vitaminas do complexo B.
Leguminosas
Feijão, lentilha, grão-de-bico e ervilha são opções vegetais ricas em proteína e fibras. Quando combinadas com cereais (como arroz ou quinoa), fornecem todos os aminoácidos essenciais.
Laticínios
Leite, iogurte e queijos são fontes de proteína de fácil absorção e também fornecem cálcio, importante para ossos e músculos. Prefira as versões com menor teor de gordura e sem adição de açúcar.
Sobre o Sírio-Libanês
A Sociedade Beneficente de Senhoras Hospital Sírio-Libanês, instituição filantrópica que completou 100 anos em 2021, atua diariamente para oferecer e compartilhar com a sociedade uma assistência médico-hospitalar de excelência, com atendimento humanizado e individualizado em mais de 60 especialidades. Desde 2007, é reconhecida pela Joint Commission International (JCI), principal órgão mundial em qualidade e segurança hospitalar, e é a única instituição no Brasil a possuir também a acreditação da JCI em Atenção Primária à Saúde.
Por meio da Faculdade Sírio-Libanês, contribui para a formação de profissionais de saúde éticos e preparados para atuar com base em boas práticas, além de fomentar o desenvolvimento científico com estudos e pesquisas nacionais e internacionais. A instituição oferece graduação, pós-graduação lato sensu e stricto sensu, residências médicas e multiprofissionais, cursos de atualização, estágios, seminários e reuniões científicas.
O Sírio-Libanês foi pioneiro na criação de programas de Saúde Populacional, que reúnem empresas, operadoras e equipes de Atenção Primária no cuidado contínuo e qualificado, apoiando a gestão do benefício do plano de saúde e promovendo qualidade de vida e produtividade. Atualmente, está presente com dois hospitais e cinco unidades em São Paulo e Brasília. Saiba mais em nosso site: Link
Referências
1 Global Growth Insights. Protein Supplements Market Size, Share, Growth and Industry Analysis, By Types (Whey Protein, Egg Protein, Soy Protein, Casein, Others), By Applications (Retail Outlets, Online Stores), Regional Insights and Forecast to 2034. Acesso em 06/11/2025. Disponível em: Link
2 EFSA – Panel on Nutrition, Novel Foods and Food Allergens. Scientific opinion on dietary reference values for protein. Acesso em 31/10/2025. Disponível em: Link
3 Society of Sports Nutrition. International Society of Sports Nutrition Position Stand: protein and exercise. Acesso em 31/10/2025. Disponível em: Link
foto: Freepik


