Aparecida e Cachoeira Paulista consolidam-se como destinos de fé no país, enquanto o Círio de Nazaré recebe investimento inédito do Ministério do Turismo. No mundo, Fátima, Santiago de Compostela, Vaticano, Meca e Guadalupe seguem entre os maiores pólos de peregrinação

No Brasil e no mundo, a fé deixou de ser apenas uma expressão espiritual para se consolidar como motor econômico. O turismo religioso, que mobiliza entre 300 e 330 milhões de viagens internacionais todos os anos, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), tem transformado cidades em pólos de geração de emprego, renda e infraestrutura. Dados de mercado estimam que o segmento tenha movimentado US$ 254 bilhões em 2023 e deve alcançar US$ 671,93 bilhões até 2030, confirmando sua relevância estratégica para o setor de viagens globais.

No Brasil, onde 86% da população se declara cristã de acordo com o IBGE, o impacto é ainda mais evidente. O Ministério do Turismo aponta que 37% dos brasileiros já participaram de experiências ligadas à fé, e 18% elegem o turismo religioso como sua modalidade favorita, atrás apenas de sol e praia. A cada ano, cidades como Aparecida (SP), Cachoeira Paulista (SP), Juazeiro do Norte (CE) e Belém (PA) recebem milhões de peregrinos que, além da devoção, sustentam cadeias produtivas inteiras.

Aparecida e Cachoeira Paulista: epicentros da devoção

Em 2024, o Santuário Nacional de Aparecida recebeu 9.057.885 devotos entre janeiro e dezembro, um crescimento de cerca de 2,4% em relação a 2023, quando foram registrados 8,8 milhões de devotos. A cidade do Vale do Paraíba se tornou referência mundial na recepção de peregrinos, com hotéis, restaurantes e serviços funcionando em torno da fé. A poucos quilômetros dali, Cachoeira Paulista abriga a sede da Comunidade Canção Nova, que em 2024 ultrapassou a marca de 2 milhões de visitantes, com recordes em eventos como o PHN, que atraiu mais de 187 mil pessoas em um único fim de semana.

O Santuário Nacional vive ainda um período singular com a celebração do Ano Jubilar, iniciado em outubro de 2024 e que se estende até 2025. Declarada oficialmente Igreja Jubilar pelo Vaticano, a Basílica passou a oferecer indulgências plenárias aos peregrinos que cumprem os ritos de confissão, comunhão e oração pelas intenções do Papa. O título amplia o valor da peregrinação, que se torna não apenas um gesto devocional, mas também um momento de renovação espiritual e integração com a Igreja universal.

Na prática, o Jubileu reforça a atratividade de Aparecida como destino de fé, somando-se ao impacto já gerado pelos milhões de devotos recebidos anualmente. Além do simbolismo religioso, o período estimula maior fluxo de visitantes ao longo de todo o ano, prolonga estadias e amplia o consumo nos setores de hospedagem, alimentação e comércio, reafirmando o papel estratégico do turismo religioso na economia local.

Círio de Nazaré: fé e investimento público

No Norte do país, Belém se prepara para receber, em 12 de outubro, uma das maiores manifestações religiosas do mundo: o Círio de Nazaré. Em 2024, a festa atraiu 89 mil turistas e gerou impacto econômico estimado em R$ 189 milhões, segundo dados do Dieese-PA. Para a edição de 2025, o Ministério do Turismo anunciou aporte inédito de R$ 2 milhões, destinado à infraestrutura e à promoção do evento. A data coincide com o feriado de Nossa Senhora Aparecida, ampliando o potencial de deslocamento de fiéis em todo o Brasil.

“A coincidência entre o Círio e o feriado de 12 de outubro cria um pico de demanda. É a hora de preparar rotas integradas, acessibilidade, sinalização clara e parcerias com o trade para prolongar a estadia dos visitantes”, explica Santuza Macedo, consultora de turismo especializada em experiências para brasileiros no Brasil e no exterior. “Quando bem planejado, o turismo religioso se transforma em oportunidade não apenas para a fé, mas para o desenvolvimento das cidades.”

Do Cariri ao Vaticano: conexões globais

O fenômeno não é restrito ao Brasil. Em Portugal, o Santuário de Fátima registrou 6,2 milhões de visitantes em 2024. Na Espanha, quase meio milhão de pessoas concluíram o Caminho de Santiago no mesmo ano, recebendo a tradicional Compostela. No Vaticano, os museus alcançaram 6,8 milhões de visitantes em 2024, consolidando Roma como destino de fé e cultura.

Na Arábia Saudita, a peregrinação a Meca reuniu 1,6 milhão de fiéis em 2025, segundo a autoridade estatística do país. Já no México, a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe recebeu cerca de 12 milhões de peregrinos apenas na semana das festividades de dezembro de 2024.

“Esses números mostram que o turismo religioso não é apenas um movimento de fé, mas uma força global que conecta continentes, culturas e economias. A cada ano, ele amplia sua relevância no cenário internacional e reforça o papel das cidades de acolher bem e transformar a devoção em desenvolvimento”, afirma Santuza.

Impacto direto nas cidades

Seja em Aparecida, Juazeiro do Norte ou Belém, os efeitos do turismo religioso vão muito além da fé. O segmento impulsiona a ocupação hoteleira, fortalece o comércio popular, gera empregos temporários e fomenta a infraestrutura. A cada romaria, pequenos negócios de hospedagem, alimentação e transporte encontram novas oportunidades de crescimento.

Para especialistas, esse é um mercado que ainda pode expandir-se no Brasil. “O turismo religioso tem potencial de integração com outros segmentos, como o cultural e o gastronômico, o que prolonga a estadia e aumenta a renda local. É preciso olhar para esse público não apenas como peregrino, mas como viajante que busca experiências completas”, avalia Santuza Macedo.

Sobre Santuza Macedo:

Santuza Macedo é empreendedora e especialista em turismo e cruzeiros. CEO da Diamond Viagens, possui vasta experiência internacional e atuou em Orlando (EUA), com foco em experiências personalizadas para turistas brasileiros. Hoje, promove roteiros e excursões no Brasil, com destaque para o Sul Fluminense, além de oferecer consultoria para quem deseja ir para Orlando.

foto: pexels.com

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