Declínio cognitivo causado pelo tratamento do câncer pode se confundir com sinais de demência, principalmente em pacientes acima dos 70 anos.
Até 80% dos pacientes submetidos à quimioterapia poderão experimentar o chemobrain1, ou névoa cerebral, termo que designa o déficit cognitivo durante ou após o tratamento. Pessoas com o transtorno reclamam de perder o foco no trabalho e a capacidade de realizar várias atividades ao mesmo tempo ou se concentrar na leitura. Outros chegam a dizer que se sentem “verdadeiros idiotas” ou que suas mentes viraram uma “gelatina” 2,3. Como 70% dos casos de câncer ocorrem em idosos4, o oncologista Luiz Gustavo Torres, da Oncologia D’Or, adverte que o chemobrain pode mascarar os sintomas da doença de Alzheimer, também comum nesta faixa etária.
“Por causa da quimioterapia, o cérebro passa por mudanças temporárias, resultando na perda da capacidade cognitiva de seis meses a um ano. Em pessoas acima de 70 anos, existe o risco de os familiares não saberem se esse declínio resulta da quimioterapia ou indício de demência”, declara o médico. Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, a Doença de Alzheimer afeta cerca de 1,2 milhão de pessoas no País5.

A diferença entre a perda da capacidade cognitiva provocada pela quimioterapia e pela Doença de Alzheimer está na duração
Chemobrain X Alzheimer
A principal diferença entre o declínio derivado da quimioterapia e da demência é a duração. Enquanto o chemobrain é temporário, a disfunção cognitiva do Alzheimer é progressiva, visto tratar-se de uma doença neurodegenerativa que avança ao longo do tempo. “O comprometimento cerebral da quimioterapia costuma ser mais sutil, podendo passar despercebido pelos familiares que notam o problema apenas quando relatado pelo paciente”, afirma o especialista da Oncologia D’Or.
Três características marcam o chemobrain: a dificuldade de concentração e organização, a lentidão no processamento da informação e a demora na execução de uma tarefa. Sua incidência varia conforme a neoplasia. O transtorno acomete até 90% dos pacientes com tumor cerebral, entre 20% e 30% de adultos com leucemia e até 75% de mulheres com câncer de mama2.
Já o Alzheimer é reconhecido por provocar, de forma contundente e progressiva, a perda da memória e a dificuldade de retenção de informações, afetando aspectos importantes da vida, como a autonomia. Em estágios mais avançados, causa lapsos de desorientação, levando o indivíduo a não saber onde está, mesmo que momentaneamente.

A Doença de Alzheimer provoca, de forma contundente e progressiva, a perda da memória e a dificuldade de retenção de informações
“No chemobrain, a pessoa sai de casa para ir ao mercado e, no meio do caminho, esquece porque está na rua. Mas não fica desorientada”, explica o médico Luiz Gustavo Torres. “No Alzheimer, o paciente não consegue ou se atrapalha em realizar processos antes executados com facilidade – como lidar com dinheiro, limpar a casa ou preparar uma refeição”, complementa o especialista.
O que fazer
Havendo sinais de qualquer tipo de declínio cognitivo, os oncologistas devem ser informados para identificar a origem do transtorno. Conforme o caso, o paciente será encaminhado para um neurologista ou geriatra. Hoje o diagnóstico pode ser feito com base em testes cognitivos com imagens, escrita e leitura e no resultado da ressonância magnética.
Existem estratégias para mitigar os efeitos do chemobrain, entre eles a terapia cognitiva comportamental, o treinamento cognitivo e a atividade física. Os médicos podem indicar exercícios de memória e terapias que trazem melhorias transitórias para os pacientes com Alzheimer, mas não que interrompem o curso da doença.
Chemobrain e vida profissional
A origem dos efeitos tardios da quimioterapia para o cérebro ainda não está clara. Alguns cientistas acreditam que o tratamento pode alterar ou acelerar o processo de envelhecimento cerebral. Outras pesquisas sugerem que o chemobrain possa estar relacionado não apenas à integridade neuronal alterada, mas também à interrupção das redes estruturais que processam e integram informações em todo o cérebro2.
O fato é que o transtorno causado pela quimioterapia impacta a rotina do paciente, principalmente a profissional. Acostumado a tratar mulheres com câncer de mama, Luiz Gustavo Torres aconselha as empresas a realizarem um movimento de reinserção no trabalho em mulheres que ficaram de licença médica por causa da doença.
Muitas vezes os pacientes atribuem o comprometimento cognitivo ao afastamento temporário do trabalho. Cabe ao médico fazer uma busca ativa junto aos pacientes, a fim de levantar possíveis problemas associados aos efeitos colaterais da quimioterapia. “A pessoa precisa ser informada que a queda do rendimento profissional está associada ao tratamento e procurar ser gentil consigo mesma, não se culpando por eventuais falhas”, conclui o médico.
Referências
- Wefel JS, Schagen SB: Chemotherapy-related cognitive dysfunction. Curr Neurol Neurosci Rep 2012, 12:267 e 275.
- Mary-Ellen Meadows. Cognitive function after cancer and cancer treatment. Uptodate. 2025.
- Vardy J, Tannock I. Cognitive function after chemotherapy in adults with solid tumours. Crit Rev Oncol Hematol. 2007 Sep;63(3):183-202. PMID: 17678745.
- Além dos 60. Rede Câncer, edição 39, 2017, Instituto Nacional do Câncer (INCA).
- Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Doença de Alzheimer: Novos fatores de risco e identificação dos estágios Disponível em Link.
Oncologia D’Or
A Oncologia D’Or opera uma rede com mais de 60 clínicas em 12 estados brasileiros e no Distrito Federal. Seu corpo clínico é formado por mais de 500 especialistas em oncologia, radioterapia e hematologia, que, junto às equipes multiprofissionais, entregam um cuidado integral, personalizado e de excelência ao paciente.
Em estreita integração com grande parte dos mais de 79 hospitais da Rede D’Or, a instituição proporciona uma experiência assistencial abrangente, combinando terapias avançadas e os modelos mais modernos de medicina integrada, assegurando agilidade, eficiência e segurança em todas as etapas do tratamento oncológico, desde o diagnóstico até a recuperação.
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