Trabalho de Carnaval reúne mais de 200 obras em mostra coletiva que celebra e debate o trabalho dos profissionais que fazem a festa
A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, recebe a exposição Trabalho de Carnaval, na Grande Galeria do edifício Pina Contemporânea. A mostra coletiva reúne mais de 200 obras de 70 artistas de diferentes gerações e origens, como Alberto Pitta, Bajado, Bárbara Wagner, Ilu Obá de Min, Heitor dos Prazeres, Juarez Paraíso, Lita Cerqueira, Maria Apparecida Urbano, Rafa Bqueer e Rosa Magalhães.
A exposição se divide em quatro núcleos temáticos – Fantasia, Trabalho, Poder e Cidade –, e apresenta a maior festa popular do país como uma cadeia produtiva que envolve o trabalho das muitas mãos desde antes mesmo da festa acontecer, ao mesmo tempo em que alude à precariedade e invisibilidade desses profissionais. Trabalho de Carnaval conta com comissionamentos de projetos inéditos dos artistas Adonai, Ana Lira e Ray Vianna, além de obras, adereços, projetos de decoração e documentação histórica em fotografia e vídeo.

Helen Salomão. Mãos que adornam o Orí (2025)
“Quanto pensamos em carnaval, pensamos no furor, na alegria coletiva, no calor de fevereiro, nas multidões ocupando as ruas do Brasil inteiro. Pensamos também, é claro, no espetáculo em que se tornou o desfile das escolas de samba, no frevo e no maracatu, em Pernambuco. Mas, para que isso tudo aconteça, é preciso muito trabalho: os ensaios de coreografias e os projetos de decoração, mas também os ofícios de costureiros, escultores, pintores, além, é claro, dos profissionais de limpeza urbana, motoristas e seguranças nos fazem perceber que existe uma inteligência específica que faz a festa acontecer. A exposição parte dessa premissa: o carnaval produz e é produto do trabalho realizado majoritariamente por pessoas negras e pobres do país inteiro. Esse trabalho começa muito antes da festa e recomeça logo depois que ela termina, produzindo uma cadeia geradora de trabalho e renda que sustenta inúmeros artífices que são sistematicamente invisibilizados”, dizem os curadores da mostra.
Antecedendo o carnaval de 2026 em três meses, a data de abertura reitera a importância desse período de preparação da festa.

Hugo Muniz. Urso do Bairro Novo (2025)
Sobre a exposição
O núcleo intitulado Fantasia faz referência a dois elementos característicos do carnaval: o ato de se fantasiar, assumindo provisoriamente uma nova identidade, e a força da imaginação, fundamental para uma série de ofícios que envolvem o festejo. Diversos projetos e croquis integram a parte central da Grande Galeria, entre os quais se destacam os estudos de J. Cunha para o carnaval de Salvador, Joana Lira para as decorações de rua do Recife e da dupla Gabriel Haddad e Leonardo Bora, quando eram carnavalescos da escola de samba Acadêmicos do Cubango. Este mesmo núcleo inclui ainda um Boneco de Olinda (PE), um figurino de Clóvis Bornay (RJ) e uma fantasia de gorila do grupo Tropa do Gurilouko (RJ), coletivo da zona oeste carioca que costura sacos plásticos para evocar os pelos do animal. O vídeo Quarta-feira de cinzas(1986), de Rivane Neuenschwander e Cao Guimarães, também pode ser vista nesse núcleo.
Discussões sobre as condições de trabalho da festa são apresentadas no núcleo intitulado Trabalho, no qual são apresentadas obras que trazem à tona, ao mesmo tempo em que problematizam, a representatividade dos trabalhadores. Isso acontece, por exemplo, com os estandartes dos clubes pedestres do Recife – originados do associativismo de trabalhadores no pós-abolição –, todos eles vindos do acervo do Paço do Frevo, na capital pernambucana. Pinturas, fotografias e esculturas também podem ser vistas pelo público, como na série de fotografias Estrela Brilhante (2025), de Hugo Muniz, e Orí costurado de paz (2025), de Helen Salomão.
A relação entre carnaval e espaço urbano ou rural aparece no núcleo Cidade por meio de representações de blocos, cordões, afoxés e outras formas de cortejos que convocam multidões. O núcleo reúne obras como as fotografias realizadas por Diego Nigro no Galo da Madrugada (2025) no Recife, considerado o maior bloco de carnaval de rua do mundo, e de Renato Velasco, de 1984, que registrou a construção da Marques de Sapucaí do Rio de Janeiro, um projeto de Oscar Niemeyer inaugurado em 1984.
A partir daí, o surgimento dos sambódromos transformou a paisagem urbana. Os desfiles das escolas paulistanas, que aconteciam desde 1977 na avenida Tiradentes – onde estão dois edifícios da Pinacoteca – são transferidos em 1991 para o Anhembi: o caráter provisório da festa torna-se, pontualmente, traído pela permanência desses equipamentos urbanos. A exposição mostra ainda como o carnaval está ligado aos meios de transportes, como nos trios elétricos de Salvador e nos carros alegóricos das escolas de samba, e às lutas políticas de preservação da memória dos centros urbanos, como em O peso do esplendor (2024), de Rafa Bqueer, e em um adereço de torre de apartamentos da Troça Carnavalesca Empatando a tua vista, do Recife.
Por fim, o núcleo Poder celebra os encontros de trabalhadores dos canaviais em Pernambuco transformando-se em reis e rainhas do maracatu, assim como mulheres negras e grupos periféricos marginalizados se tornando, por alguns dias, as figuras de comando durante a festa: Deusas de Ébano, Reis Momos, Rainhas do Carnaval. O empoderamento atribuído a esses grupos pode ser visto por meio de fotografias, vídeos, pinturas e instalações, como nos elementos originais da Corte do Maracatu Elefante, que parou de desfilar em 1962, após a morte de Dona Santa, sua lendária rainha. Nesse núcleo ainda podem ser vistas obras de Pedro Marighela, Solano Trindade e Raquel Trindade, além de fotografias que registram o babalorixá Mario Miranda que, durante o carnaval, assumia sua identidade como Maria Aparecida.
A exposição Trabalho de Carnaval tem patrocínio de Itaú e Kinea, na conta Platinum, Renner, na cota Ouro, Ambev (com Stella Artois) e Gol, na cota Prata, e Apoio de Mídia da Revista Piauí.
SOBRE A PINACOTECA DE SÃO PAULO
A Pinacoteca de São Paulo é um museu de artes visuais com ênfase na produção brasileira do século XIX até́ a contemporaneidade e em diálogo com as culturas do mundo. Museu de arte mais antigo da cidade, fundado em 1905 pelo Governo do Estado de São Paulo, vem realizando mostras de sua renomada coleção de arte brasileira e exposições temporárias de artistas nacionais e internacionais em seus três edifícios, a Pina Luz, a Pina Estação e a Pina Contemporânea. A Pinacoteca também elabora e apresenta projetos públicos multidisciplinares, além de abrigar um programa educativo abrangente e inclusivo. B3, a bolsa do Brasil, é Mantenedora da Pinacoteca de São Paulo.
SERVIÇO:
Pinacoteca de São Paulo
Edifício Pina Contemporânea | Grande Galeria
De quarta a segunda, das 10h às 18h (entrada até 17h)
Gratuitos aos sábados – R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada), ingresso único com acesso aos três edifícios – válido somente para o dia marcado no ingresso
2º Domingo do mês – gratuidade Mantenedora B3


